Estudo mostra que a cannabis altera função cerebral de modo durável
Um estudo publicado na JAMA Network Open analisou o impacto da cannabis na ativação cerebral durante diversas tarefas cognitivas
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A discussão sobre a legalização da produção e venda de cannabis para fins recreativos ou medicinais continua a ser um tema polêmico.
Atualmente, três países europeus já aprovaram a legalização: Malta, Luxemburgo e Alemanha. A venda e o uso de cannabis são tolerados em “coffeeshops” nos Países Baixos; no entanto, a produção e posse fora desses estabelecimentos permanecem ilegais.
A cannabis não é um produto isento de riscos: suas consequências adversas à saúde foram comprovadas e continuam a ser objeto de investigação.
Estudos recentes
Um estudo publicado na JAMA Network Open analisou o impacto da cannabis na ativação cerebral durante diversas tarefas cognitivas.
A pesquisa envolveu 1.003 adultos, com idade média de 29 anos, sendo 470 homens e 533 mulheres. Os participantes foram divididos em três grupos com base em seus hábitos de consumo de cannabis: usuários pesados, que consumiram mais de 1.000 vezes ao longo da vida (8,8% da amostra), usuários moderados (17,8%), e não usuários, que consumiram 10 vezes ou menos (73,4%).
Todos os participantes passaram por ressonância magnética (IRM) e realizaram um teste de urina no mesmo dia para verificar se haviam usado cannabis recentemente (nos últimos 10 dias).
O estudo investigou como o consumo de cannabis afeta a atividade cerebral em diversas funções cognitivas, incluindo memória de trabalho, regulação emocional, compreensão linguística, motricidade, tomada de decisão e interações sociais.
Durante cada tarefa, os pesquisadores mapearam as áreas cerebrais ativadas e a intensidade dessa ativação.
Resultados
De acordo com os resultados obtidos, o uso intenso e prolongado do cannabis combinado com um consumo recente resulta em danos consideráveis à atividade cerebral.
A pesquisa revelou uma redução significativa da ativação cerebral em tarefas relacionadas à memória de trabalho: “Observamos uma diminuição aproximada de 14% na ativação cerebral durante essas tarefas entre os grandes usuários em comparação aos não usuários”, afirmou Josh Gowin, professor da Escola de Medicina da Universidade do Colorado e coautor do estudo.
Além disso, notou-se que entre os consumidores regulares, a ativação na região do ínsula anterior — uma área do cérebro associada à percepção e emoções — era substancialmente reduzida.
Efeitos prejudiciais a longo prazo
Outro dado alarmante é que não houve diferenças significativas entre usuários pesados que consumiram cannabis nos últimos 10 dias e aqueles que não haviam consumido recentemente; isso indica que os efeitos prejudiciais se manifestam ao longo do tempo.
O mecanismo pelo qual o THC atua no cérebro é complexo. O tetrahidrocannabinol (THC) é o principal composto ativo encontrado na cannabis.
Quando inalado ou ingerido, ele substitui a anandamida — um neurotransmissor natural — nos receptores cerebrais. Essa interação no sistema de recompensa provoca liberação excessiva de dopamina, criando sensações de prazer procuradas pelos usuários.
Entretanto, devido à maior quantidade de THC comparado à anandamida presente naturalmente no cérebro e à duração prolongada dos efeitos do THC, há uma saturação temporária desse sistema autorregulatório.
O cérebro busca constantemente um equilíbrio químico; assim, uma superexposição aos receptores dopaminérgicos pode levar ao seu fechamento temporário.
Danos cerebrais irreversíveis
Isso explica alguns dos sintomas adversos associados ao uso excessivo de cannabis, como ansiedade e paranoia.
Se esses efeitos se prolongarem por muito tempo, podem causar danos cerebrais irreversíveis; o uso regular tem sido associado à redução da densidade dos receptores dopaminérgicos e até mudanças estruturais no cérebro, especialmente em fumantes jovens.
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