Escalada de violência ameaça estabilidade da Síria pós-Assad
Após a ascensão do grupo islâmico HTS, centenas de alauítas foram mortos em execuções sumárias
A Síria mergulhou em um novo ciclo de violência após a derrubada do regime de Bashar al-Assad, em dezembro de 2024, com execuções sumárias de centenas de alauítas.
Os alauítas são um grupo étnico-religioso que representa cerca de 10% da população síria.
Eles fazem parte de um ramo do Islã xiita, com crenças e práticas que diferem das tradições islâmicas sunitas e xiitas ortodoxas.
Historicamente, os alauítas enfrentaram discriminação e marginalização na região, mas sua ascensão ao poder na Síria se consolidou com Hafez al-Assad, pai de Bashar, que governou o país com mão de ferro de 1971 até sua morte em 2000.
Sob o regime dos Assad, muitos alauítas ocuparam altos cargos militares e no governo, formando os pilares do poder estatal sírio.
Com a queda de Bashar al-Assad, os alauítas passaram a ser vistos como alvos de represálias pelos novos governantes, que pertencem ao grupo islâmico Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), de orientação sunita jihadista.
Após a tomada do poder, Ahmed al-Sharaa prometeu garantir a segurança de todas as minorias religiosas, mas a realidade tem monstrado o contrário.
Os confrontos começaram em 6 de março na província de Lataquia, um dos redutos históricos dos alauítas e da família Assad.
O governo acusou grupos armados pró-Assad de atacarem postos de controle e patrulhas de segurança, levando a uma forte resposta militar.
O que começou como um combate localizado rapidamente se transformou em massacres generalizados, com forças do governo e milícias aliadas invadindo aldeias alauítas, executando civis e incendiando propriedades.
Segundo relatos de organizações de direitos humanos, pelo menos 750 alauítas foram mortos em execuções sumárias.
Vídeos verificados por entidades internacionais mostram homens armados insultando as vítimas antes de matá-las, em alguns casos afirmando que estavam “purificando” o país.
Testemunhas afirmam que corpos foram jogados no mar ou deixados nas ruas, enquanto moradores fugiam para regiões mais seguras.
O presidente interino Ahmed al-Sharaa tentou minimizar os acontecimentos, culpando os remanescentes das forças de Assad por instigar o conflito.
Em resposta às pressões internacionais, Sharaa anunciou a criação de um comitê para investigar os ataques, prometendo punir os responsáveis.
Os Estados Unidos condenaram os massacres e pediram a proteção das minorias religiosas na Síria.
A União Europeia expressou alarme com a escalada da violência e enfatizou a necessidade de responsabilização pelos crimes cometidos.
Enquanto isso, milhares de alauítas fugiram para o Líbano, buscando refúgio da violência. Organizações humanitárias como a Cruz Vermelha e o ACNUR estão auxiliando os deslocados, mas há temor de que novas ondas de refugiados possam pressionar ainda mais os países vizinhos.
O massacre de alauítas evidencia a fragilidade da Síria após a queda de Assad. O país ainda enfrenta divisões sectárias profundas. A situação continua volátil, e o risco de uma insurgência alauíta contra o novo governo não pode ser descartado.
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Comentários (1)
Carlos Renato Cardoso Da Costa
11.03.2025 14:40Violência sectária em país árabe após troca de ditador por um terrorista? Jura?