Embaixadora reclama do vazamento de investigação sobre ação da Abin
"Há coisas que são feitas, mas que não são para serem publicadas", disse a secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty

A secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan (foto), classificou na quinta-feira, 3, como “lamentável” o vazamento à imprensa da investigação sobre o suposto ataque hacker da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra autoridades paraguaias.
A ação da agência de inteligência foi revelada por servidores em depoimento à Polícia Federal e publicada pelo Uol.
“Houve um programa iniciado no ano passado, e encerrado nesse governo. E realmente não nos passaria pela cabeça espionar um país amigo. Mas eu acho que as instituições envolvidas estão fazendo seus processos internos de averiguação, inclusive do lamentável vazamento à imprensa, que não deveria ter ocorrido, porque há coisas que são feitas, mas que não são para serem publicadas por razões óbvias“, disse a embaixadora a jornalistas em entrevista para falar sobre a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que começa na próxima semana.
Gisela Padovan reverberou o Itamaraty e o Palácio do Planalto, atribuindo à operação ao governo de Jair Bolsonaro e tentando livrar o governo Lula da responsabilidade.
“Processos de investigação não deveriam estar na imprensa. Mas nós trabalhamos, por enquanto, com essa informação que nos foi fornecida, de que era um processo iniciado no governo anterior, e que foi interrompido, exatamente quando, esses detalhes que estão sendo estudados. Mas o Itamaraty não tem absolutamente nada a ver com isso, e nós estamos trabalhando com as nossas contrapartes paraguaias, para que isso não empane uma relação que é tão vigorosa, tão boa, tão densa, tão histórica, como a nossa relação com o Paraguai”, afirmou.
A operação da Abin
Um servidor da agência de inteligência contou à Polícia Federal, em depoimento, que a Abin hackeou autoridades do governo do Paraguai para obter informações relacionadas à negociação de tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu Binacional, objeto de disputa comercial entre os dois países.
Embora o planejamento tenha começado ainda na gestão de Jair Bolsonaro (PL), a ação foi executada com a autorização do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
O agente contou que a ação envolveu o uso do programa Cobalt Strike, usado para invasão de dispositivos de informática.
“O Cobalt Strike era uma ferramenta utilizada para o desenvolvimento de um artefato de intrusão em computadores do governo paraguaio para dados relacionados à negociação bilateral de Itaipu […] O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do anexo C dos valores de venda de energia produzida por Itaipu”, afirmou.
Em depoimento, ele disse que agentes da Abin fizeram três viagens para Chile e Panamá, de onde foram disparados os ataques, para montar os servidores virtuais usados na ação.
“Foram invadidos o Congresso paraguaio, Senado, Câmara e Presidência da República”, revelou o agente.
Os alvos eram “autoridades relacionadas diretamente à negociação e aos valores a serem cobrados por megawatt”.
“Foram capturadas [informações] de cinco ou seis pessoas”, acrescentou, sem mencionar a data da operação, as informações obtidas ou as identidades dos alvos.
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