Eleição na Argentina: Massa e Milei disputam Presidência; o que saber Eleição na Argentina: Massa e Milei disputam Presidência; o que saber
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Eleição na Argentina: Massa e Milei disputam Presidência; o que você precisa saber

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Caio Mattos, De Buenos Aires
9 minutos de leitura 19.11.2023 07:16 comentários
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Eleição na Argentina: Massa e Milei disputam Presidência; o que você precisa saber

A eleição na Argentina chega ao seu desfecho domingo, 19, com a realização do segundo turno da disputa pela Presidência, que opõe o candidato peronista...

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Caio Mattos, De Buenos Aires
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Eleição na Argentina: Massa e Milei disputam Presidência; o que você precisa saber
Foto: Reprodução

A eleição na Argentina chega ao seu desfecho hoje, neste domingo, 19 de novembro, com a realização do segundo turno da disputa pela Presidência, que opõe o candidato da situação e ministro da Economia, Sergio Massa, ao libertário Javier Milei.

A votação em território argentino começa às 8h, e se encerra às 18h. O resultado deve ser conhecido a partir das 21h, segundo esperam as autoridades eleitorais.

O peronista liderou o primeiro turno com seis pontos de vantagem sobre Milei, com 35,98% dos votos válidos contra 29,34%.

Trata-se de uma diferença de 1,8 milhão de votos, 9,8 milhões para Massa ante 8 milhões para o libertário.

Essa vantagem, entretanto, foi construída em um cenário com a oposição totalmente dividida.

A candidata do ex-presidente Mauricio Macri, Patricia Bullrich, terceira colocada, obteve mais de 23% dos votos, ou 6,3 milhões de votos, em 22 de outubro.

Agora, Milei conta com o apoio de Macri e Bullrich, em uma aliança feita às pressas e sem aviso prévio, dias após o primeiro turno.

O libertário também tem ao seu favor a crise econômica, marcada por uma uma inflação de 142,7% no acumulado dos últimos 12 meses, um recorde desde a recuperação da hiperinflação da virada de 1980 a 1990.

Crusoé/Caio Mattos
Posto de gasolina com fila para abastecer no bairro de Palermo, cidade de Buenos Aires – 30/10/2023. Foto: Crusoé/Caio Mattos

 

Em contraponto, o ministro da Economia explora o aparato peronista para mobilizar o eleitorado a seu favor, assim como a incompetência de Milei e Macri em unificar toda a oposição.

O extra-oficialismo na aliança entre o libertário e o ex-presidente desintegrou a coalizão do macrismo, Juntos por El Cambio, afastando um grupo político importante, os radicales.

Além disso, Milei e Macri não conseguiram o apoio declarado do quarto colocado do primeiro turno, o peronista anti-kirchnerista Juan Schiaretti, atual governador de Córdoba. Schiaretti está neutro neste segundo turno.

Massa, por sua vez, conseguiu mobilizar diversas lideranças da política local cordobesa para tentar amenizar os prejuízos eleitorais lá — no primeiro turno, Milei liderou a província com mais de 36% dos votos; o peronista ficou em quarto, com 16%.

A província de Córdoba é um importante bastião do anti-kirchnerismo. Ela representa cerca de 10% do eleitorado nacional.

Esse é o maior bolsão de votos que pode contrapor o bastião do kirchnerismo, a Província de Buenos Aires, com os seus mais de 30% do eleitorado nacional.

Não é por acaso que o libertário encerrou sua campanha lá, em um ato com 15.000 pessoas na quinta-feira, 16 de novembro.

Institutos de pesquisa apostam alto em Milei

A legislação eleitoral proíbe a divulgação de pesquisas eleitorais desde 10 de novembro, mesmo antes do debate presidencial do segundo turno, realizado dois dias depois, no domingo passado, 12.

Crusoé obteve acesso aos monitoramentos internos realizados desde então por dois institutos de pesquisa, a brasileira Atlas Intel e a CB Consultoria. Os dois institutos de pesquisa previram a liderança de Massa no primeiro turno.

 

O monitoramento da Atlas Intel data de anteontem, sexta-feira, 18 de novembro, e a da CB Consultoria de quinta, 16.

Ambos identificaram um cenário estável na última semana da eleição na Argentina, com Milei a frente de Massa acima da margem de erro mas por pouco.

O CEO da Atlas Intel, Andrei Roman, afirma que o libertário tem 70% de chance de ganhar as eleições, enquanto que o representante da CB Consultoria, Cristian Buttié, fala em até 80%.

“Milei sempre esteve na frente. Esta é uma eleição em que estruturalmente o voto de oposição sempre esteve na frente. Quem teria que virar esse cenário era o Massa”, diz Roman.

Somados, os votos de Milei e Bullrich no primeiro turno ultrapassam os 50%.

Ambos os monitoramentos da Atlas Intel e da CB Consultoria são realizados por pesquisas online.

Alguns analistas de opinião pública afirmam que essa metodologia subnotifica o eleitorado mais pobre, pela falta de acesso à Internet.

Massa lidera com folga nesse eleitorado. Essa vantagem foi ofuscado pela abstenção nas primárias, em agosto, mas revelada no primeiro turno, em outubro, após a mobilização do eleitorado peronista na região metropolitana de Buenos Aires, em especial no município de La Matanza.

“Toda a metodologia tem os seus problemas. O segredo está na ponderação do cálculo”, afirma Buttié.

Roman destaca o aparato peronista (leia abaixo) como algo que pode alterar o cenário.

Participação e feriado

Duas variáveis de difícil captação das pesquisas eleitorais são a taxa de participação, ou seja, o nível de abstenção, e a taxa de votos válidos, que excluí o voto em branco e nulo.

Não é possível afirmar que haja uma tendência recente na Argentina sobre a  evolução da taxa de participação ou de brancos e nulos do primeiro para o segundo turno.

Afinal, em 40 anos de democracia, completados neste 2023, só se realizou uma eleição presidencial em segundo turno apenas em 2015, vencida por Mauricio Macri. A diferença de participação foi pequena, uma queda de apenas 0,3%.

Cabe lembrar que a segunda-feira pós-eleição, 20 de novembro, é feriado na Argentina, Día de la Soberanía Nacional. Calcula-se que 700.000 argentinos viagem nesse feriado, estimulados por incentivos fiscais públicos ao turismo.

Quanto aos votos em branco e nulos, que diminuíram em menos de um ponto percentual em 2015, uma série de cartazes apareceram nos últimos dias em Buenos Aires com críticas a Milei e pedindo o voto em branco.

Leia também: Cartazes em Buenos Aires pedem voto em branco a dias do segundo turno

Em teoria, uma menor taxa de participação, assim como uma menor taxa de votos válidos, favorece Sergio Massa.

Isso se deve ao fato de ele ter uma taxa de rejeição maior que a de Milei, ou seja, o limite máximo de votos que o peronista pode alcançar e menor.

Portanto, quanto mais votos estiverem na contagem final, que inclui apenas os válidos, maiores as chances de Milei ganhar.

Otimismo e fatalismo na campanha de Massa

Nos bastidores, a campanha de Massa apresenta visões tanto otimistas quanto fatalistas para o segundo turno.

Crusoé conversou com duas fontes internas da campanha.

“As perspectivas são otimistas. A campanha acredita que vai ganhar por pouco”, diz um consultor político que trabalha para a campanha.

Ele também afirma o destaque que se dá à província de Córdoba.

“O resultado de Córdoba é chave. Não se pode ganhar lá, mas se prevê uns 30% dos votos para que a eleição se defina na Província de Buenos Aires”, afirma.

Em contrapartida, um outro consultor, próximo a Massa, diz que Milei está “encaminhado” para vencer.

“Milei se encaminha para ser presidente. Só depende que a fiscalização seja eficiente [leia abaixo]. Mas o voto popular majoritário, ele já tem”, diz.

Segundo esse consultor, “a insistência na campanha do medo” contra Milei [leia abaixo] “enfraqueceu” Massa.

Ele também acredita que o “estilo agressivo” de Massa no debate presidencial do domingo passado, 12 de novembro, “deu a Milei os votos que lhe faltavam”.

 

Aparato peronista

Símbolo do modus operandi peronista nesta eleição na  Argentina foi o uso do assistencialismo, por meio de medidas econômicas eleitoreiras conhecidas como Plan Platita, assim como da campanha do medo a Milei.

O aparato peronista vai muito além das estruturas do Estado nacional. Até mesmo a Associação de Futebol Argentino (AFA), chefiada por um aliado de Massa, e os clubes de futebol entraram em campo contra o libertário.

A máquina eleitoral do peronismo envolve, em especial, o principal partido peronista, o Partido Justicialista, as prefeituras e organizações de bairro, assim como os sindicatos e movimentos sociais.

“É uma tradição no peronismo a distribuição de benefícios sociais e fidelização do voto, que tem se tornado mais sofisticada”, diz Marcos Novaro, professor da Universidade de Buenos Aires e especialista em peronismo.

“Essa estrutura envolve diversas organizações com milhões de pessoas. Quem recebe benefício tem de cumprir requisitos políticos, como participar de entidades políticas e de manifestações, militar nos seus bairros e votar”, acrescenta.

Logo, essa relação de clientelismo não envolve apenas uma troca comercial, mas também afinidades pessoais e ideológicas pela aproximação com a militância.

Apropriando-se historicamente da pauta da justiça social, ou seja, da preferência pelo que se define como classe trabalhadora, o peronismo historicamente se fortalece quando essas bandeiras aparentam estar ameaçadas.

Nesta eleição na Argentina, Massa elevou o discurso a um patamar inédito, o suposto embate entre democracia e autoritarismo, ou entre uma mudança ordenada e o caos.

O candidato peronista não tinha outra escolha graças à herança maldita do governo Alberto Fernández, do qual o ministro-candidato tem sua parcela de responsabilidade.

“O discurso do peronismo nestas eleições está advogando, acima de tudo, pela democracia”, afirma o cientista político Agustín de Marco.

“Se Milei e Macri conseguirem impor no debate público a ideia de que estas eleições ainda são uma disputa entre peronismo e anti-peronismo, eles ganham a eleições”, acrescenta.

Fiscalização

Como disse o consultor fatalista da campanha de Massa, o libertário deve ganhar a eleição na Argentina se “a fiscalização for eficiente”. Ele se refere a uma característica específica do sistema eleitoral argentino, sem paralelos no Brasil.

Os eleitores argentinos votam com cédulas de papel chamadas boletas.

Há um detalhe fundamental que diferencia esse sistema de outros com voto impresso, como os Estados Unidos.

As boletas só…

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