Crusoé: Sem democracia na escolha dos democratas
Partido que desenvolveu modelo de primárias há meio século agora tomou a decisão de cima para baixo. Em 36 horas, valeu o "rei morto, rainha posta"
Em menos de 36 horas, Joe Biden desistiu de sua campanha a reeleição nos EUA pelo Partido Democrata e uma sucessora natural — sua vice-presidente, Kamala Harris — foi alçada em seu lugar. No fim da noite desta segunda-feira, 22, sua campanha já tinha 230 milhões de dólares (1,2 bilhão de reais) em doações liberadas. O apoio de lideranças partidárias. E ela já assegurou o voto de delegados suficientes para a nomeação, que ocorrerá apenas na convenção do mês que vem.
Para quem, há 52 anos, desenvolveu as primárias para que seus eleitores definissem o candidato, esse não é o momento mais democrático da história do Partido Democrata.
A pouco mais de 100 dias da eleição, os democratas estavam entre a cruz e a espada — a manutenção da candidatura Biden se mostrava perigosa aos planos atuais e futuros do partido, afastando potenciais eleitores preocupados com a idade de Joe Biden (que fará 82 final do ano).
Ao mesmo tempo, o partido não teria como refazer as suas tradicionais primárias em todos os 50 estados e nos territórios que votam na eleição presidencial — o modelo, criado para as eleições de 1972 após uma tumultuosa convenção quatro anos antes, colocou a base partidária a escolher seus nomes e tirou dos cabeças partidários o poder de decisão final. Este é um ciclo, no entanto, que demora vários meses e demanda uma articulação nacional que já foi feita. Levar eleitores registrados novamente a votar em Iowa, Illinois, na Samoa Americana e em Porto Rico, por exemplo, é muito difícil uma vez. Duas vezes, em um período que agora se resume a dias, é impensável.
A decisão, então, veio de cima para baixo: os líderes partidários pressionaram publicamente Joe Biden a desistir — como o parlamentar Adam Schiff, que cobrou que ele passasse a liderança do partido. Nancy Pelosi — dois anos mais velha que o próprio Biden — foi tirada de uma semi-aposentadoria para falar em canais de TV sobre o que Biden deveria ou não fazer. E Barack Obama, o mais carismático dos líderes democratas, atuou para que a troca acontecesse.
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