Crusoé: Quem se lembra dos pobres na Argentina
Os pobres da Argentina — 40% da população, contra 33% no Brasil — só sabem que podem contar com a ajuda dos padres locais. Os curas villeros, ou “padres da favela” em tradução grosseira, são organizados de maneira sem paralelos em outros países...
Os pobres da Argentina — 40% da população, contra 33% no Brasil — só sabem que podem contar com a ajuda dos padres locais. Os curas villeros, ou “padres da favela” em tradução grosseira, são organizados de maneira sem paralelos em outros países. Eles ainda foram o primeiro grupo de dentro da Igreja Católica a se posicionar sobre estas eleições na Argentina.
O que define um cura villero é ser responsável por uma paróquia em uma favela e morar, e atuar, dentro da comunidade. “Vivemos nos bairros e trabalhamos neles em tudo o que precisar, desde uma pastilha de paracetamol até um velório”, diz padre Adrian Bennardis, da paróquia Virgen Inmaculada, na Villa Soldati, uma favela no sul da cidade de Buenos Aires. “Se a Igreja me realocar, deixarei de ser cura villero”, acrescenta.
Esses padres existem desde a década de 1960. Atualmente, há de 30 a 40 curas villeros organizados. Eles se concentram na cidade de Buenos Aires e em sua região metropolitana.
Nestas eleições, eles emitiram duas notas de posicionamento oficial. O primeiro documento foi publicado ainda em junho, um mês antes das primárias. O texto celebra os 40 anos de democracia e pede aos então pré-candidatos que tenham atenção com os mais carentes. O título da nota é “Não se esqueçam dos pobres”.
O resultado das primárias, nas quais o populista libertário Javier Milei foi o mais votado com 30% dos votos e 10 pontos de vantagem do segundo, levaram os cura villeros a publicarem um segundo comunicado.
Os motivos foram ataques de Milei ao papa Francisco datados de desde 2017. O presidenciável chegou a chamar Francisco de “comunista” e “representante do maligno na Terra”.
“Acaba-se por questionar se alguém com esse distúrbio emocional, que não consegue encontrar alguém que pensa diferente sem gritar e insultar, consegue suportar as tensões inerentes ao cargo público a que aspira”, diz a nota dos curas villeros.
Esses padres não divulgam suas posições políticas para além dos documentos oficiais. “Emitimos uma opinião política pelo cenário, mas nunca uma opinião partidária”, afirma padre Adrian.
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