Crusoé: Pavio aceso
Com medo de uma resposta militar israelense, Irã fala em rever sua "doutrina nuclear"
Se o Oriente Médio é um barril de pólvora, então o pavio foi aceso no sábado, 13. Pela primeira vez em sua história, a teocracia iraniana realizou um ataque direto contra Israel. Drones e mísseis de cruzeiro foram enviados com antecedência para confundir os sistemas de defesa aérea e abrir o caminho para mísseis balísticos com 400 quilos de explosivos e capacidade para arrasar tudo em um raio de dois quarteirões. Em seguida, Israel prometeu uma resposta. Na quinta, 18, um comandante da Guarda Revolucionária do Irã disse que o seu país poderia rever a sua “doutrina nuclear“, indicando que a bomba atômica poderia sair do forno em breve. O barril de pólvora, se detonado, poderia ter consequências para o mundo todo.
Quando os iranianos falam em “doutrina nuclear“, eles estão se referindo a uma fátua promulgada pelo líder supremo aiatolá Ali Khamenei, em 2003. As fátuas (fatwas, em inglês) são respostas que os líderes religiosos dão a perguntas diversas. Uma vez ditas ou escritas, elas passam a ter a validade de uma lei. “A República Islâmica do Irã, com base nas suas crenças religiosas e jurídicas fundamentais, nunca recorrerá ao uso de armas de destruição em massa”, disse Khamenei, há mais de vinte anos.
Apesar dessa frase, o Irã sempre seguiu investindo na produção de material para as ogivas nucleares e também em mísseis capazes de carregá-las. Fabricar uma bomba nuclear, afinal, não significa usá-la, como disse Khamenei. Sendo assim, as centrífugas de enriquecimento de urânio seguiram operando. O Irã afirmava que o propósito era a produção de energia, mas para tanto bastaria que o urânio fosse enriquecido a 5%. O país, contudo, passou muito desse limite e já enriquece o urânio a 60%.
A especulação é que a fátua banindo armas nucleares foi dita principalmente para enganar os estrangeiros. Além disso, essa pode ter sido uma maneira de acalmar a população iraniana que quer a bomba, mas que está triste porque ela ainda não ficou pronta. O programa nuclear iraniano, afinal, é usado internamente para ativar o orgulho nacional.
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