Crusoé: Imprudência na América
Retórica inflamada de Kamala e de Trump nos Estados Unidos cria bolhas de opinião e enfraquece o debate democrático
A campanha presidencial dos EUA em 2024 expõe uma grave contradição: enquanto se espera que líderes políticos adotem prudência e moderação – valores exaltados desde Aristóteles –, os principais candidatos trilham o caminho oposto, intensificando ataques verbais e usando retórica incendiária.
Em vez de moderação, Donald Trump e Kamala Harris têm optado por discursos que acirram ainda mais a divisão entre eleitores e enfraquecem o espaço para um debate democrático saudável.
Kamala Harris elevou o tom de suas críticas ao ex-presidente Donald Trump, indo além das acusações de estilo e chegando a classificar o adversário como “fascista” em uma entrevista à CNN.
Quando questionada se realmente considerava Trump um fascista, foi enfática: “Sim, eu acredito“. A vice-presidente sugeriu ainda que Trump representa uma ameaça às “liberdades fundamentais” e busca exercer um “poder sem controles”.
Donald Trump, por sua vez, mantém sua marca registrada de retórica combativa e carregada de vulgaridades. Ele classificou a adversária como uma vice-presidente “de m*” em um de seus comícios e se referiu aos imigrantes ilegais como “envenenadores do sangue do país” e “vermes“.
Além disso, sugeriu o uso das Forças Armadas contra o que chamou de “inimigos internos“, mencionando explicitamente figuras como Nancy Pelosi e Adam Schiff. Trump ainda insinuou que Kamala só foi indicada como vice-presidente por conta de sua etnia e gênero, chamando a democrata de “preguiçosa” e “burra“.
Esse nível de retórica é particularmente perigoso, pois alimenta uma visão binária e extremista da política, em que os oponentes são tratados não como adversários legítimos, mas como inimigos.
A estratégia de ambos os candidatos é radicalizar suas bases mais fieis, ao custo de afastar ainda mais uma parcela do eleitorado que anseia por moderação e responsabilidade no debate político.
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