China usa Malásia e Vietnã para driblar tarifas dos EUA
Empresas chinesas burlam barreiras de Trump com certificados falsos de origem emitidos em países do Sudeste Asiático
Exportadores chineses intensificaram o uso de rotas indiretas para burlar as tarifas de até 145% impostas pelos Estados Unidos.
A prática, identificada por autoridades aduaneiras da Ásia e confirmada por empresas e intermediários logísticos, consiste em reexportar mercadorias por meio de países como Malásia, Vietnã, Tailândia e Coreia do Sul, que emitem certificados de origem falsificados para mascarar o real local de fabricação dos produtos.
A estratégia, conhecida entre os envolvidos como “lavagem de origem”, ganhou popularidade em plataformas chinesas como Xiaohongshu, onde anúncios oferecem pacotes de transbordo e legalização documental.
Um dos anúncios investigados pelo Financial Times promovia o envio de produtos chineses por meio da Malásia para que chegassem aos EUA como se fossem originários do Sudeste Asiático.
Nos últimos meses, a Coreia do Sul detectou o equivalente a US$ 21 milhões em produtos com origem fraudada, a maior parte proveniente da China e com destino final nos Estados Unidos.
O Vietnã e a Tailândia também anunciaram medidas para reforçar os controles de exportação. Já a Malásia, que se tornou um dos principais pontos de reetiquetagem, informou que, a partir de 6 de maio, só o Ministério do Comércio poderá emitir certificados de origem para exportações destinadas ao mercado norte-americano.
A manobra busca contornar a exigência legal norte-americana de que um produto passe por uma “transformação substancial” em outro país para ser considerado originário daquele território.
No entanto, diversas empresas chinesas têm operado apenas o reembalamento ou a substituição de etiquetas, sem qualquer processo industrial, o que configura violação das regras comerciais internacionais.
Entre os participantes da cadeia, empresas como a fabricante Baitai Lighting, de Zhongshan, admitem vender seus produtos com cláusulas que isentam o exportador chinês de responsabilidade após o embarque nos portos de Guangzhou ou Shenzhen.
A responsabilidade sobre o destino e a legalidade do certificado de origem passa a ser do cliente ou de intermediários logísticos baseados em países vizinhos.
Dois operadores ouvidos sob anonimato pelo Financial Times relataram que as alfândegas da Malásia não costumam impor barreiras rigorosas, o que facilita o processo.
“É preciso controlar o volume para não chamar atenção, mas dá para fazer”, disse um deles.
A prática, apesar de conhecida, ainda não gerou reação pública do governo chinês. O Ministério do Comércio da China não respondeu aos pedidos de comentário.
Já o governo da Malásia afirmou que qualquer tentativa de burlar tarifas internacionais com declarações falsas será investigada e punida.
A violação das regras de origem não só representa risco de sanções comerciais, como também pode levar à apreensão de cargas por autoridades aduaneiras dos Estados Unidos.
Grandes plataformas como a Amazon já alertaram seus fornecedores sobre os riscos legais de tentar reduzir artificialmente o valor declarado de produtos ou disfarçar sua origem real.
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