Carreira de Ebrahim Raisi foi “pavimentada com cadáveres”
Falecido presidente iraniano foi um dos juízes de um painel itinerante conhecido como "Comitê da Morte", que levou ao enforcamento secreto de pelo menos 4.000 presos políticos em menos de 3 meses, em 1988
A morte de Ebrahim Raisi (foto), presidente do Irã, uma das vítimas da queda de um helicóptero no domingo, 19, não comoveu boa parte dos iranianos. E isso não é surpreendente, segundo Roya Boroumand, cofundadora do Centro Abdorrahman Boroumand, uma fundação pelos direitos humanos no Irã.
“A carreira de Ebrahim Raisi é pavimentada com cadáveres”, resumiu Boroumand em postagens que recuperam um texto que ela publicou em 2017, quando Raisi disputava a presidência. “Ele era promotor aos 20 anos, após 1 ano no Ministério Público. Procurador em Karaj e Hamedan, procurador-adjunto de Teerã e, depois, procurador na primeira década após a revolução, na qual eliminar dissidentes, aos milhares, e espalhar o terror entre os iranianos era a prioridade do regime. Ele agiu como esperado e o seu sucesso foi rápido”, lembrou a militante pelos direitos humanos.
Boroumand seguiu na descrição: “Quando era procurador-geral (agosto de 2014 a março de 2016), pelo menos 1.395 foram executados. Sob sua supervisão como primeiro deputado do chefe de Justiça que aprovou sentenças de morte para supostos infratores da legislação antidrogas (2004-2014), o número de infratores da legislação antidrogas executados passou de 34 (18%) para 732 (89%)”.
Ponto alto
A cofundadora da fundação humanitária diz que o ponto alto da carreira de Raisi antes de se tornar presidente foi “seu papel na inquisição a sangue frio que levou ao enforcamento secreto de pelo menos 4.000 presos políticos em menos de 3 meses em 1988”. “Raisi foi um dos juízes de um painel itinerante de quatro homens ou, como os sobreviventes o chamam, o Comitê da Morte”, descreve Boroumand.
Ela finaliza dizendo como o falecido presidente iraniano justificou sua atuação naquele caso:
“A justificativa de Raisi: ‘Somos santos; o nosso sistema judiciário é santo e o nosso regime é santo… Há ameaças por aí que querem aniquilar esta santidade… O procurador desempenha um papel importante na identificação [das ameaças] e na garantia de que as medidas são tomadas em tempo útil”.
Morte
Raisi era encarado como potencial sucessor do líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei. Ele morreu em um acidente de helicóptero, em terreno montanhoso perto da fronteira com o Azerbaijão, confirmaram autoridades iranianas e a mídia estatal na manhã desta segunda-feira, 20 de maio.
O aiatolá Khamenei, que detém a palavra final sobre a política externa e o programa nuclear do país, disse que o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, assumirá como presidente interino, informou a agência de notícias oficial IRNA.
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