Amorim defende Maduro dando a entender que não defende
Em audiência no Senado, o assessor especial de Lula repetiu tudo o que já tinha dito sobre a crise política da Venezuela
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, que chefia o Itamaraty paralelo do governo Lula de acordo com seus interesses, e não os do Brasil, repetiu nesta quinta-feira, 15, tudo o que já tinha dito sobre a crise política da Venezuela, agravada pela farsa política montada pelo ditador Nicolás Maduro em 28 de julho.
Em audiência na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, o ex-chanceler afirmou que a proposta de uma nova eleição na Venezuela, em uma “espécie de segundo turno” entre Maduro e o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, é apenas uma “ideia”, como a proposta de garantias recíprocas defendida pelo presidente colombiano Gustavo Petro.
“Não tem nada que o Brasil, enquanto Brasil, esteja defendendo. Nós estamos promovendo o diálogo e vendo se do diálogo nasce alguma ideia. Às vezes é preciso pensar fora do quadrado, é o jeito, para ver o que acontece.”
E as atas?
Amorim prometeu aos senadores continuar defendendo a divulgação das atas, que, como disse a senadora Tereza Cristina (PP-MS), não serão entregues. Ele, contudo, disse não achar “produtivo” impor uma data para a ditadura de Maduro apresentar os documentos eleitorais.
“Está muito clara a impaciência do presidente Lula com relação à demora das atas. Agora, colocar uma data fixa, um ultimato, eu acho que não é produtivo. A minha experiência, pelo que essa possa valer, indica que isso não traz bons resultados.”
A banalização do golpe de Estado na Venezuela
Em outro momento da audiência, Amorim minimizou a crise política da Venezuela, relembrando uma visita que fez ao país no início dos anos 1990.
“Eu não quero entrar no mérito de quem tem mais culpa ou menos culpa. Eu visitei a Venezuela pela primeira vez no governo Itamar Franco. Na minha condição de ministro. Já tinha visitado por outras razões. O embaixador, saudoso Clodoaldo Hugueney [que representou o Brasil em Caracas de 1993 a 1999], organizou um almoço de empresários. Em determinado momento do almoço, os empresários pararam de falar comigo e passaram a falar uns com os outros sobre a possibilidade de golpe, e o governo era o [Rafael Caldera].
O dilema que a gente tem hoje é que você tem, de um lado, o candidato, que é o presidente, que diz que ganhou, mas não mostra as atas. E do outro lado, o grupo da oposição que tem as atas. Como é que nós poderíamos no futuro, se isso é um bom precedente, reconhecer o presidente pelos documentos de que dispõe a oposição?
Eu acho que o diálogo deve ser incentivado. Esse é o papel de países como México, Colômbia e Brasil.”
A declaração de Amorim, que sugere que golpes de Estado são comuns na Venezuela, contraria outra dada às vésperas da farsa eleitoral de Maduro, na qual afirmou que a eleição de 28 de julho seria uma oportunidade para demonstrar que “a democracia está consolidada e que não há razão para sanções”.
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