A Otan está se preparando para guerra?
Na sua cúpula anual, em Washington, Otan apelará aos seus 32 membros para que implementem planos de defesa civil para o caso de um ataque capaz de acionar o seu Artigo 5
A cúpula anual da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) começou nesta terça-feira, 9 de julho, em Washington, e vai até a quinta-feira, dia 11. A Otan, que celebra o seu 75º aniversário, vai trocar o secretário-geral Jens Stoltenberg, no cargo há 10 anos, por Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda.
Os líderes dos países membros chegam a Washington nesta semana com a intenção de aprofundar o apoio à Ucrânia, mas se deparam também com outro tipo de desafio: como lidar com o possível retorno do ex-presidente norte-americano Donald Trump?
Embora grande parte da atenção se concentre em Biden, em meio a crescentes apelos dentro de seu próprio partido para que se afaste da candidatura à reeleição, os delegados terão uma agenda focada na ajuda militar e financeira para a Ucrânia e na oferta de algum caminho para eventual adesão de Kiev à Otan.
Ataque nível artigo 5?
Segundo matéria da revista Foreign Policy, a Otan apelará, na sua cúpula anual, em Washington, a todos os 32 membros para que implementem planos de defesa civil no caso de um ataque ao nível do Artigo 5.
O Artigo 5 é o princípio de que um ataque a um membro da Otan representa um ataque a todas as nações da organização. Esta tem sido a pedra angular da aliança desde que foi fundada em 1949 como um contrapeso para a União Soviética. O objetivo deste princípio é desencorajar potenciais adversários de atacar os membros da Otan.
A medida faz parte de um esforço contínuo dentro da Otan para se preparar para um possível futuro ataque russo à aliança que os membros acreditam que provavelmente incluirá ataques com mísseis de longo alcance, desinformação, perturbação de portos e ataques à rede energética – semelhante ao que os ucranianos enfrentaram durante a invasão em grande escala do país.
Sem revelar detalhes, Biden prometeu na segunda-feira que anunciaria, em conjunto com os aliados da Otan, “novas medidas para fortalecer a defesa antiaérea da Ucrânia” e ajudar a proteger suas cidades e os civis dos ataques russos.
A Europa deve se preparar para a guerra?
A noção de que a Europa tem de se preparar para a guerra depois dos 75 anos de vida predominantemente pacíficos da Otan após a Segunda Guerra Mundial está lentamente tornando-se o status quo em muitos governos aliados. Mas os sinais de alarme ainda são um choque para a opinião pública global.
A declaração de janeiro do chefe da defesa sueco, general Micael Byden, de que todos os suecos deveriam se preparar mentalmente para o conflito, tornou-se viral no TikTok.
No mesmo tom, o então chefe do Exército britânico, general Patrick Sanders, apelou aos britânicos para se prepararem para um nível de mobilização nunca visto desde a Segunda Guerra Mundial.
Autoridades alemãs, por sua vez, chegaram a sugerir que a Rússia poderia conduzir ataques com mísseis contra países da Otan.
Planejamento militar e civil
A reação no seio da Otan tem sido apelar aos Estados-membros para que estabeleçam uma maior ligação entre o planejamento militar e o planejamento civil no caso de uma guerra regional. “A dissuasão não é algo apenas para o ministro da defesa e para as forças armadas – é um evento que abrange toda a sociedade”, disse o almirante da Marinha Real Holandesa, Rob Bauer, presidente do Comitê Militar da Otan.
“As instituições financeiras têm um papel a desempenhar. A indústria tem um papel a desempenhar. Precisamos de infra-estruturas adequadas nas nossas nações para transportar equipamento militar por estradas e pontes. Uma ponte tem que ser capaz de transportar um tanque.”
Os países da Otan necessitam de instalações portuárias, aeroportos, bitolas ferroviárias e infraestruturas energéticas suficientes que não dependam de um pequeno número de nações. A ideia é que cada país tenha um plano para garantir a continuidade do governo civil, dos alimentos e do combustível em caso de crise, disseram responsáveis da Otan.
Países como a Estônia, a Finlândia, a Lituânia, a Letônia e a Polônia já estão apresentando planos para evacuar civis a pelo menos 80 quilômetros das linhas da frente de um conflito com a Rússia.
Zelensky em Washington
O presidente ucraniano comentou a sua presença no início da cúpula da Otan em Washington:
“Estamos lutando por mais sistemas de defesa aérea para a Ucrânia e estou confiante de que teremos sucesso. Também estamos nos esforçando para garantir mais aeronaves, incluindo os F-16. Além disso, pressionamos por garantias de segurança reforçadas para a Ucrânia, incluindo armas, ajuda financeira e apoio político.
Instamos ações decisivas por parte dos EUA e da Europa – ações que fortalecerão os nossos guerreiros.
Estamos empenhados em fazer todo o possível para garantir que o terrorismo russo seja derrotado. Isto não é apenas crucial para o nosso país – é essencial para todos – para todos os parceiros e todas as nações”, escreveu em seu perfil no X
Rússia de olho na cúpula da Otan
O Kremlin indicou na terça-feira, 9 de julho, que acompanha com “máxima atenção” a cimeira da Otan que se abre terça-feira em Washington, porque “a Aliança Atlântica considera a Rússia seu inimigo”.
“É uma aliança que considera a Rússia seu inimigo, seu adversário. Uma aliança que declarou repetidamente abertamente o seu objetivo de infligir uma derrota estratégica à Rússia no campo de batalha. É por isso que acompanharemos com a maior atenção a retórica das conversações que ocorrerão e as decisões que serão tomadas”, declarou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, durante uma coletiva de imprensa.
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