A complicada relação entre as big techs e o jornalismo independente
Google ajuda a financiar iniciativas independentes de mídia enquanto trava batalhas nos bastidores contra iniciativas de regulação

Lançado em 2018, o Google News Initiative distribuiu 30 milhões de dólares para ajudar a viabilizar mais de 200 projetos de pequenas organizações e jornalistas independentes em 47 países da África, América Latina e Oriente Médio.
No Brasil, dois dos projetos beneficiados foram o Confere Aí, aplicativo que propunha fazer uma verificação automática de desinformação na internet, e o Lume, plataforma desenvolvida para melhorar a acessibilidade de pessoas cegas e com baixa visão a conteúdo jornalístico de qualidade.
No entanto, um estudo conduzido pelos pesquisadores brasileiros Mathias Felipe de Lima-Santos e Lucia Monteiro, publicado no International Journal of Cultural Studies, revelou que a grande maioria dos projetos financiados pelo programa do Google teve dificuldade para sair do papel ou sobreviver, devido à falta de recursos para atrair e manter talentos, tanto no departamento técnico quanto jornalístico.
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Embora a proposta do Google News Initiative seja louvável, nos bastidores a empresa trava uma batalha em países como Austrália, EUA, Canadá, e até no próprio Brasil, para brecar propostas de leis e regulações que venham a distribuir uma parte do lucro dos anúncios para os próprios criadores do conteúdo que alimenta o buscador, ou seja, as organizações jornalísticas.
Se em 2014 o serviço Google News saiu da Espanha devido a uma nova lei de propriedade intelectual que exigia o pagamento pelos direitos de exibição de conteúdo, em 2021 a empresa passou a pagar 140 milhões por ano a organizações de jornalismo na Austrália, quando uma nova lei entrou em vigor no país para tentar equilibrar a relação de força entre elas.
Segundo Mathias Felipe, “o fato de ser vista financiando programas de inovação e treinamento pode proporcionar um ambiente regulatório mais favorável e, em última análise, ajudar a gigante da tecnologia a evitar regulamentações mais rígidas que obriguem pagamentos diretos aos editores de notícias. Os órgãos reguladores de todo o mundo estão cada vez mais apoiando essas propostas. Mas em muitos países, inclusive no Brasil, o Google tem resistido fortemente”.
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