O segredo por trás do sucesso global dos doramas e K-Pop
Coreia do Sul vira a maior potência cultural do mundo
O conceito de poder blando ganhou destaque nos debates de relações internacionais ao longo das últimas décadas, sobretudo a partir das ideias propostas por Joseph Nye. Segundo o pensador norte-americano, a hegemonia dos Estados Unidos, mais do que baseada em força militar, se sustenta na capacidade do país de seduzir audiências globais a partir da cultura pop e dos produtos midiáticos. Programas de televisão, filmes e música tornaram-se poderosas ferramentas para consolidar o imaginário social acerca do chamado “American Way of Life”, influenciando valores e comportamentos mundo afora.
No entanto, com o avanço da globalização e das novas tecnologias da informação, observa-se um processo de transformação desse domínio cultural. A oferta de entretenimento e obras artísticas se diversificou, com outras nações também apostando na estratégia do soft power para construir reputação internacional e conquistar novas audiências. Países asiáticos como Japão e, mais recentemente, Coreia do Sul, vêm protagonizando um novo capítulo dessa disputa simbólica.
O que é poder blando e como ele atua na cultura internacional?
Poder blando, ou soft power, é um conceito que descreve a habilidade de um país em influenciar os demais por meio da atração e persuasão de valores, costumes e modelos de vida, ao invés de recorrer a coerção ou imposição econômica. Esse tipo de poder se manifesta principalmente através da difusão de produtos culturais, como séries televisivas, filmes, música e outros formatos de entretenimento. A cultura pop estadunidense, por décadas, exerceu um papel central nesse cenário, funcionando como padrão a ser seguido ou comparado em diferentes partes do planeta.
Exemplos notórios dessa influência aparecem nas preferências de consumo global, seja no sucesso de franquias hollywoodianas, no impacto mundial da música pop norte-americana ou na incorporação de elementos do estilo de vida dos Estados Unidos em diferentes sociedades. A atração cultural, nesse contexto, se traduz em ganhos simbólicos e, indiretamente, em vantagens políticas e econômicas.
Por que o domínio cultural americano está em transformação?
No início do século XXI, o advento dos serviços de streaming e a popularização da internet mudaram as dinâmicas de distribuição de conteúdo. A facilidade de acesso a obras audiovisuais de diferentes origens contribuiu para o surgimento de novas tendências culturais. Estudos recentes apontam que as ficções americanas, antes referência principal da indústria, têm perdido espaço para produções inovadoras e plurais, vindas de lugares como Coreia do Sul.
Esse cenário também revela um esgotamento do modelo narrativo norte-americano, frequentemente criticado pela repetição de fórmulas. Enquanto isso, outros países investem em narrativas diferenciadas, que mesclam elementos internacionais com peculiaridades regionais, proporcionando experiências únicas ao público global. A chamada “onda coreana” é exemplo claro dessa reconfiguração geopolítica do entretenimento.
Como a Coreia do Sul se tornou referência em soft power global?

O sucesso da Coreia do Sul como potência cultural não é fruto do acaso, mas de um esforço estratégico e contínuo. Desde a década de 1990, o governo sul-coreano adotou políticas públicas específicas para incentivar as indústrias criativas e exportar obras de interesse internacional. O K-pop, por exemplo, nasceu da combinação entre influências ocidentais e elementos visuais próprios, priorizando ritmos como R&B e hip hop e investindo em coreografias marcantes e produções de alto padrão.
- Estímulo à formação de profissionais para o mercado artístico.
- Políticas de exportação de conteúdo midiático.
- Parcerias entre setor público e privado para internacionalização das obras.
- Adaptação de formatos para públicos globais, respeitando tendências ocidentais.
No segmento audiovisual, dramas coreanos ou “k-dramas” também ganharam projeção por unir temas universais a aspectos culturais próprios da sociedade sul-coreana. Séries como “Round 6”, “Em Movimento” e “Responde 1988” são exemplos de obras que, ao mesmo tempo em que dialogam com modelos consagrados de Hollywood, introduzem nuances e códigos narrativos autênticos.
Quais fatores explicam o avanço das culturas asiáticas no entretenimento mundial?
Entre os principais elementos responsáveis por esse fenômeno, destacam-se o investimento em inovação, a compreensão das demandas do público jovem e o aproveitamento das mídias digitais para alcançar mercados distantes. Plataformas como YouTube, Spotify, Netflix e Disney+ facilitaram a chegada dessas produções a diferentes continentes, reduzindo distâncias e fortalecendo laços culturais.
Além disso, a criação de obras que trazem abordagens novas sobre gêneros populares, como romances, thrillers, dramas históricos e ficções científicas, conquista nichos variados e contribui para a renovação do interesse do público. O chamado “star system” sul-coreano, com atores e atrizes de grande popularidade, também cumpre papel relevante ao promover reconhecimento internacional desses produtos culturais.
- Presença digital massiva de grupos de K-pop e artistas diversos.
- Produção audiovisual adaptada a diferentes gostos regionais.
- Tramas que refletem questões sociais e valores contemporâneos.
- Inovação tecnológica e estética nas obras.
Qual o impacto dessa nova configuração do poder blando para o cenário global?
A ascensão da cultura sul-coreana enquanto referência de soft power evidencia o dinamismo das relações culturais e destaca a importância das estratégias de política externa baseadas na exportação de valores, símbolos e imagens. O poder blando, nesse novo contexto, projeta-se como instrumento central para a construção da imagem internacional de um país, influenciando percepções, ampliando possibilidades de negócios e fortalecendo laços sociais.
A concorrência entre diferentes modelos culturais permitirá ao público global desfrutar de um panorama cada vez mais diverso e estimulante, no qual novas narrativas e perspectivas ganham espaço. A tendência é que, diante da multiplicidade de propostas, o consumo de obras estrangeiras torne-se hábito comum, favorecendo a circulação de ideias e o intercâmbio cultural entre nações.
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