Litoral brasileiro com estruturas gigantes escondem um segredo milenar
Eles viveram há milhares de anos e deixaram monumentos gigantes. Agora, estudos mostram que sua história é mais complexa do que se pensava.
Há cerca de sete mil anos, a costa litorânea do que hoje conhecemos como Brasil foi habitada por um povo conhecido como os sambaquieiros. Eles foram responsáveis pela construção de monumentos impressionantes chamados sambaquis, estruturas feitas de conchas, ossos, areia e terra, que podiam atingir até 40 metros de altura. Esses locais, além de serem marcadores territoriais, serviam como habitações, cemitérios e espaços cerimoniais.
Apesar de sua importância histórica, muitos aspectos sobre os sambaquieiros permanecem envoltos em mistério. Não se sabe ao certo de onde vieram, por que desapareceram ou se foram substituídos por outros povos indígenas que habitavam o litoral brasileiro quando os portugueses chegaram em 1500. Recentemente, um estudo publicado na revista Nature Ecology & Evolution trouxe novas luzes sobre essas questões.
Quem eram os sambaquieiros?
Os sambaquieiros foram comunidades que habitaram a costa atlântica entre 8 mil e 2 mil anos atrás. Acredita-se que sua sobrevivência dependia de uma economia diversificada, que incluía a pesca, a coleta de frutos do mar e o cultivo de plantas. A caça de animais terrestres e práticas de horticultura também podem ter feito parte de seu cotidiano.
Os sambaquis, grandes montes de conchas e outros materiais, representam a acumulação deliberada e prolongada de restos de peixes, vegetais, artefatos e vestígios de fogueiras. Esses sítios arqueológicos estão espalhados principalmente pelo Sul e Sudeste do Brasil, com alguns atingindo alturas impressionantes de até 40 metros.
O que a genética revela sobre os sambaquieiros?
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e de outras instituições realizaram o sequenciamento genético de fósseis de 34 indivíduos que viveram em diferentes regiões do Brasil. A análise revelou uma diversidade genética surpreendente entre os grupos, destacando diferenças significativas entre os povos do Sudeste e do Sul da costa brasileira.
Os resultados indicam que esses grupos descendem dos mesmos ancestrais que cruzaram a Beríngia há 16 mil anos. Uma descoberta marcante foi a continuidade de linhagens relacionadas ao povo de Luzia, de Lagoa Santa, que persistiram até cerca de 2 mil anos atrás, desafiando a ideia de que teriam desaparecido completamente há 9 mil anos.
Por que os sambaquieiros desapareceram?

Ainda há muitas dúvidas sobre o desaparecimento dos sambaquieiros. Não se sabe exatamente o motivo do desaparecimento em massa ocorrido há dois mil anos. Uma hipótese é que a chegada de novos grupos, como os povos ancestrais Jê, que viviam no interior do Sul e se moveram para o litoral, pode ter influenciado a vida dos sambaquieiros.
Esses novos grupos trouxeram inovações, como a cerâmica, que começaram a ser incorporadas nos sambaquis. Essa transição sugere uma adaptação gradual, com a assimilação de novas práticas e tecnologias, em vez de uma substituição total dos sambaquieiros.
O que o futuro reserva para o estudo dos sambaquis?
Para entender melhor a origem e o fim dos sambaquis, é essencial combinar estudos genéticos e arqueológicos. A geneticista Tábita Hünemeier, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP, destaca que ainda há muitas lacunas e questões sem resposta. No entanto, aos poucos, é possível reconstruir a história da ocupação humana na América do Sul.
Os sambaquis continuam a ser considerados um dos maiores fenômenos demográficos da América do Sul pré-colonial, ficando atrás apenas das civilizações andinas. Com mais pesquisas, espera-se desvendar os mistérios que ainda cercam esses monumentos e seus construtores.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)