Rodolfo Borges na Crusoé: Pais e filhos à beira do campo
Estará nos filhos de dois dos principais treinadores brasileiros, o atual e o último técnico de fato da seleção, o futuro do comando tático do futebol no Brasil?
Minha primeira reação é achar bonito. Pai e filho juntos, à beira do campo, discutindo estratégias para enfrentar o time adversário. E se tornou frequente no Brasil. Tite e Matheus Bachi no Flamengo, Dorival Jr. e Lucas Silvestre na seleção brasileira, Ramón Diaz e Michel Diaz no Corinthians. Até Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, conta com um filho na equipe técnica. Mas a dobradinha familiar é mais complicada do que parece.
Lucas só pode atuar com Dorival na seleção porque o Código de Ética da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi alterado, pouco depois de ser criado, em 2016, para permitir que Matheus atuasse com Tite no comando do selecionado brasileiro. Entre as situações que constituem conflito de interesse, previstas no artigo 13, está “empregar cônjuge, companheiro(a) ou parentes em linha reta ou colateral até terceiro grau de dirigente eleito da respectiva Entidade”.
Há oito anos, contudo, o código da CBF também diz que “a situação categorizada como conflito de interesse prevista no inciso V do caput deste artigo não se aplica à convocação ou contratação de parentes para a formação e/ou constituição de equipes de futebol ou para integrar comissões técnicas de clubes ou de seleções, desde que se trate de funções técnicas ou de prática desportiva”.
Desconfiança
A razão para o auxílio dos filhos é obvia: confiança. E a desconfiança sobre a opção de contratar o próprio sangue também não é difícil de entender: o auxiliar foi escolhido porque é o mais competente para ocupar o posto ou simplesmente porque é o filho de quem tomou a decisão? A dúvida persistirá até que o filho desenvolva um trabalho longe do pai, é o fardo que a cria carrega pela facilidade da ascensão.
“Meu pai lhe dirá: vejam que homem a Rússia está perdendo… Isso é uma bobagem; mas não desiluda o velho”, diz o niilista Bazárov em Pais e Filhos (Cosac & Naify), de Ivan Turguêniev, seguindo:
“Contanto que sirva para as crianças se distraírem… a senhora entende. E trate minha mãe com carinho. Não vai encontrar outras pessoas como eles neste mundo… Sou necessário à Rússia… Não, é óbvio que não sou. Mas quem é necessário? Um sapateiro é necessário, um alfaiate é necessário, um açougueiro é necessário… vende carne… o açougueiro… espere, estou confuso…”
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