Rodolfo Borges na Crusoé: A educação sentimental do botafoguense
A seca de títulos expressivos ensinou o botafoguense a desconfiar da sorte, mas algo vem mudando desde a venda do clube para John Textor
“A Penúria é a mãe da Sabedoria”, diz Deslauriers ao amigo Fréderic, protagonista de A educação sentimental, de Flaubert. É nessa lógica que foi forjado o atual torcedor do Botafogo, que resistiu sabiamente a acreditar, na temporada passada, que seu time seria campeão brasileiro, mesmo com larga vantagem para o segundo colocado.
A seca de títulos relevantes, que está prestes a completar 30 anos, e os rebaixamentos sequenciais ensinaram o botafoguense a desconfiar da própria sorte. Algo vem mudando, contudo, desde a venda do clube para o americano John Textor, em 2022.
A transformação do Botafogo em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) injetou um dinheiro com o qual a torcida não poderia nem sonhar há cinco anos. De um ano para o outro outro, o clube passou a disputar títulos como há muito não fazia. Parte da torcida, principalmente os mais jovens, naturalmente se deslumbrou.
Comendo com as mãos
É como se, acostumados a comer na praça de alimentação do shopping center, os botafoguenses fossem sentados à mesa de um banquete interminável em um grande salão, no qual são servidos sem precisar se levantar, e não conseguem parar de comer — com as mãos.
Digo isso porque tive contato direto com o deslumbramento quando o São Paulo enfrentou o Botafogo pelas quartas-de-final da Libertadores da América.
Vivíamos tempos de X bloqueado e eu frequentava o Threads, que, pela lógica sinistra das redes sociais, nos expõe a postagens irrelevantes, mas extremamente irritantes.
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Esses botafoguenses mais animados não se satisfaziam em exaltar o time milionário montado — e remontado na janela do meio do ano — por Textor, mas debochavam da fase do tricolor paulista e se arriscavam até a pôr em dúvida a força do estádio do Morumbi e da torcida são-paulina na Libertadores.
Pior do que isso: eles cantavam vitória antes do tempo…
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