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O crepúsculo dos craques

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Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 17.12.2022 10:39 comentários
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O crepúsculo dos craques

Quão pouco é necessário para a felicidade! O som de uma rede balançando. Sem o futebol a vida seria um erro. O brasileiro imagina até Deus cobrando um escanteio. É parodiando Nietzsche ao estilo Nelson Rodrigues que introduzo um dos dilemas filosóficos que mais perturba o homem no século XXI...

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O crepúsculo dos craques
Messi e Cristiano, em campo pela Copa do Mundo do Catar. (Foto: AFA/FPF)

Quão pouco é necessário para a felicidade! O som de uma rede balançando. Sem o futebol a vida seria um erro. O brasileiro imagina até Deus cobrando um escanteio. É parodiando Nietzsche ao estilo Nelson Rodrigues que introduzo um dos dilemas filosóficos que mais perturba o homem no século XXI: Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo?

Os números são parecidos. O português é o maior artilheiro da história da Champions League, com 141 gols — o argentino vem logo atrás, no segundo lugar, com 129, e ainda disputa o torneio. Ronaldo ganhou cinco taças do maior campeonato de clubes da Europa, Messi tem quatro. O craque de Lisboa, Manchester, Madri e Turim marcou 819 gols em 1147 jogos (média de 0,71 por partida); a estrela de Barcelona e Paris balançou as redes 791 vezes nas 1002 ocasiões em que entrou em campo (média de 0,79).

Messi foi eleito o melhor jogador do mundo em sete ocasiões. Seu rival levou a Bola de Ouro cinco vezes. Eles se revezaram nessa disputa ao longo de 13 anos, desde 2008 (o prêmio de 2020 não foi entregue, por causa da pandemia), até que o francês Karim Benzema encerrou o duelo neste ano. Ronaldo mudou mais de time, é possível dizer que se arriscou mais, enquanto Messi construiu seu império no confortável Barcelona antes de tentar a sorte no emergente PSG.

A carreiras dos dois se assemelham nas seleções de seus países. Ambos lideraram suas nações em títulos continentais — Portugal foi campeão europeu em 2016 e a Argentina levou a Copa América no Brasil em 2021, após 28 anos. O campeonato europeu é muito mais difícil que o sul-americano, então Ronaldo leva pequena vantagem no quesito. Mas apenas Messi ainda pode conduzir seu país ao título mundial.

O desempenho dos dois craques na Copa do Mundo do Catar pinta um quadro muito mais favorável para o argentino. Messi é responsável direito pela chegada de sua seleção à final contra a França. Enquanto ele divide a artilharia do torneio com o francês Kylian Mbappé, com cinco gols cada, o português virou reserva ainda na primeira fase e viu seu substituto marcar três gols em uma só partida — ironicamente, Ronaldo é o recordista mundial de hat tricks; marcou três gols numa mesma partida 60 vezes, e é seguido de perto por Messi, que tem 56 tripletes.

O crepúsculo da carreia de ambos escancara as diferenças entre seus estilos. O futebol de Messi depende menos da forma física. Os registros da Fifa mostram que, na vitória contra a Croácia, na semifinal, até o goleiro da Argentina foi mais veloz que a Pulga. Aos 35 anos, depender menos do fôlego e mais da habilidade é uma vantagem óbvia, ainda mais para quem tem a capacidade de Messi. Seu futebol é simples, objetivo, pragmático. É raro encontrar uma firula na carreira do introspectivo argentino, que sempre driblou em direção ao gol, quase sem malícia, com a ingenuidade de uma criança que segue fielmente as regras do jogo.

Já português exibicionista se notabilizou por buscar a própria imagem no telão do estádio. Protagonizou jogadas exuberantes, como um gol de bicicleta perfeito pelo Real Madrid, contra a Juventus, em 2018, e os dribles com mudança de direção em alta velocidade, que geralmente deixavam seus adversários no chão. Mesmo se cuidando obsessivamente, contudo, o Ronaldo de 37 anos não consegue manter a potência que marcou sua carreira. Não sustentou a titularidade nem no abalado Manchester United, com o qual rompeu melancolicamente ainda durante a Copa.

Os dois melhores jogadores de futebol deste século têm feitos praticamente iguais e estilos completamente diferentes. Messi parece ter uma perspectiva mais longeva para a carreira, mas Ronaldo foi muito mais plástico e atlético. Dois anos mais velho, o herdeiro de Eusébio vê a carreira sangrar em campo, se revelou mortal antes do rival. O argentino ainda é foco e precisão, o português foi força e disciplina. Digamos que escolher um deles é questão de gosto. Pelo menos até a final deste domingo, à qual a Argentina chegou por causa de seu camisa 10, mas também porque Dibu Martínez pegou dois pênaltis contra a Holanda.

Depois que Messi for campeão mundial e se igualar a Maradona, é a história que vai se encarregar de julgar os dois, e esse julgamento não depende do gosto de ninguém.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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