“É um momento muito difícil em Hollywood”
David Smith, jornalista americano, discute o declínio das tradicionais salas de roteiristas em Hollywood, afetadas por mudanças na indústria e o impacto da inteligência artificial
David Smith publicou nesta quarta, 4, no The Guardian, artigo intitulado “É um momento muito difícil em Hollywood: o encolhimento do mundo das salas de roteiristas de TV”, em que ele detalha as transformações radicais enfrentadas pelos roteiristas de TV nos últimos anos.
O autor destaca como o aumento das plataformas de streaming, a pandemia de Covid-19, tensões raciais e greves abalaram a estrutura de um dos pilares da indústria: as salas de roteiristas, onde surgiram programas icônicos como The Simpsons e Os Sopranos.
Smith observa que, no auge da TV tradicional, salas de roteiristas contavam com equipes numerosas, muitas vezes com mais de uma dezena de profissionais que colaboravam em temporadas longas de até 22 episódios. Esse ambiente não apenas criava grandes séries, mas também servia como espaço essencial para o treinamento de jovens roteiristas.
Hoje, contudo, “os programas têm muito menos episódios. Os dias de sitcoms e dramas com 22 episódios praticamente acabaram”, observa Matthew Belloni, ex-editor do The Hollywood Reporter, citado no artigo.
Com a ascensão das plataformas de streaming, houve uma transição para as chamadas “mini-salas”, compostas por quatro ou cinco roteiristas, frequentemente para produzir temporadas mais curtas de apenas seis a dez episódios.
Essa mudança tem gerado grande frustração entre os profissionais da área, que veem suas oportunidades de trabalho e aprendizado diminuírem a cada ano. Anton Schettini, autor de Breaking into TV Writing, afirma que “as salas de roteiristas estão cada vez menores e duram menos tempo”, destacando a necessidade da recente greve dos roteiristas para proteger a profissão.
A negociação do Sindicato dos Roteiristas da América (WGA) garantiu que programas com pelo menos 13 episódios devam ter um mínimo de seis roteiristas, além de outras reinvindicações, como aumentos salariais e melhores condições para as mini-salas. Mesmo assim, as condições continuam “brutais”, segundo o roteirista Gideon Yago, que descreveu os meses recentes como “os mais difíceis” de sua carreira.
Um fator que exacerba o cenário é o crescimento da inteligência artificial na indústria. Desde a introdução do ChatGPT, a IA se tornou um dos principais pontos de discórdia nas negociações entre estúdios e roteiristas.
Smith relata que, enquanto os estúdios estão livres para utilizar IA na produção de conteúdo, os roteiristas conquistaram o direito de processar caso seus trabalhos sejam utilizados para treinar essas tecnologias. “As pessoas ainda preferem que os roteiristas façam o trabalho”, afirma um roteirista que prefere permanecer anônimo, aliviado pela proteção conquistada contra a concorrência da IA.
O artigo de David Smith coloca em evidência as dificuldades crescentes enfrentadas pelos roteiristas de TV em um momento de grandes transformações tecnológicas e econômicas, com a indústria tentando se ajustar a um novo modelo de produção.
Quem é David Smith
David Smith é um jornalista americano, correspondente do The Guardian nos Estados Unidos, especializado em política e cultura. Com uma carreira de mais de 20 anos, Smith é conhecido por sua cobertura da presidência de Donald Trump e pela análise das transformações culturais na América. Além de seu trabalho no The Guardian, ele já colaborou com outros veículos como The Times e The Telegraph.
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