Um país submergente: Inglaterra
Em um mundo onde a inflação assombra inclusive os países desenvolvidos, a medida tomada pelos bancos centrais tem sido majoritariamente a mesma: elevar suas taxas de juros, reduzindo liquidez a fim de conter o impacto de preços na economia...
Em um mundo onde a inflação assombra inclusive os países desenvolvidos, a medida tomada pelos bancos centrais tem sido majoritariamente a mesma: elevar suas taxas de juros, reduzindo liquidez a fim de conter o impacto de preços na economia. Apesar disso, as medidas fiscais adotadas pelos países não têm sido de mesma intensidade e, com isso, têm gerado resultados diferentes, fazendo alguns países sofrerem mais do que os outros, como é o caso da Inglaterra.
Nos últimos 12 meses, a Inglaterra teve uma inflação de 9,9%, patamar mais alto já visto.
Com alterações no lado político, Liz Truss foi escolhida para assumir o cargo de primeira-ministra, tendo que enfrentar um período extremamente conturbado economicamente e que piorou após as medidas adotadas pela recém primeira-ministra.
Primeiramente, Truss anunciou que congelaria os preços de energia em uma média de 2.500 libras por ano até 2024. Após isso, apresentou uma proposta de redução de tributos, trazendo mais impacto do ponto de vista fiscal. Juntas, as medidas custam cerca de 200 bilhões de libras ao governo britânico, exigindo mais necessidade de financiamento por meio de emissão de dívidas.
O impacto das medidas somado à atual situação inflacionária e um governo já muito endividado preocuparam o mercado, temendo mais inflação, mais endividamento do governo e, consequentemente, uma política monetária mais contracionista.
O resultado disso foi uma forte desvalorização da libra esterlina, assim como uma brutal elevação nas taxas de juros longas, atingindo patamares de 20 anos atrás. Reação típica de um país emergente onde num cenário de estresse vê sua bolsa cair, sua moeda se depreciar e as taxas de juros subirem.
A libra esterlina, que já vinha em trajetória de queda ao longo do ano, depreciou ainda mais, caindo cerca de 8% no mês de setembro, chegando a 21% de desvalorização frente ao dólar em 2022. Como referência, o real valorizou 24% frente à libra neste ano, ou seja, uma libra esterlina, que no início do ano valia cerca de 7,5 reais, hoje equivale a 5,7 reais.
A depreciação da moeda também piora a situação inflacionária do país, tornando as importações de produtos, que são cotadas em dólar, mais caras.
Já as taxas de juros dos títulos soberanos do governo britânico explodiram, chegando a patamares não vistos há 20 anos, fazendo com que o mercado financeiro como um todo operasse de maneira disfuncional.
Com o cenário de estresse, o Bank of England tomou uma medida contraintuitiva e decidiu intervir no mercado de juros, anunciando um movimento de recompra dos títulos longos do governo, forçando a taxa para baixo e trazendo um alívio temporário ao mercado.
Apesar desse alívio fazer sentido do ponto de vista de mercado, faz pouco sentido do ponto de vista econômico. A retomada de uma política de compra dos títulos longos do governo, não ajuda no controle inflacionário, que deve seguir piorando nas terras britânicas. Neste ambiente, só temos uma conclusão: a Inglaterra tem se comportado como um país emergente.
Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações.
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