Precisamos falar sobre inflação (sempre) Precisamos falar sobre inflação (sempre)
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Precisamos falar sobre inflação (sempre)

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 28.06.2023 17:01 comentários
Economia

Precisamos falar sobre inflação (sempre)

Depois da pandemia e da guerra na Ucrânia, que jogou nas alturas o preço dos combustíveis, os Estados Unidos e especialmente a Europa voltaram a se preocupar com a inflação, algo que não acontecia há muito tempo...

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Carlos Graieb
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Precisamos falar sobre inflação (sempre)
Foto: Leonardo Sá/Agência Senado

Depois da pandemia e da guerra na Ucrânia, que jogou nas alturas o preço dos combustíveis, os Estados Unidos e especialmente a Europa voltaram a se preocupar com a inflação, algo que não acontecia há muito tempo.

No Reino Unido, o país mais afetado pelo problema, a inflação da cesta básica tinha ultrapassado 17% em fevereiro deste ano, e a imprensa e a internet se encheram de relatos que pareciam registrados no Brasil: gente saindo do supermercado com a sacola vazia.

A capa da revista inglesa The Economist desta semana é dedicada ao tema da inflação persistente, ou “grudenta” (sticky). “Embora as taxas de inflação tenham caído e o choque energético tenha perdido força, a inflação de base [calculada sem levar em conta os preços mais voláteis] é renitente. Tanto nos Estados Unidos quanto na área do euro, ela ultrapassa 5%”, diz a reportagem.

Economistas britânicos também acharam oportuno revisitar o assunto e traduzi-lo para gerações que pouco ouviram falar dele. Stephen D. King, que tem presença constante na imprensa do seu país, acaba de publicar We Need to Talk About Inflation (precisamos falar sobre inflação).

Para um leitor brasileiro, não é novidade o que um livro como esse tem a oferecer, mas seu tom de alarme: ele trata a inflação como se fosse um personagem daquele outro Stephen King, que escreve histórias de horror. A perversidade da inflação já deveria ser um fato incontroverso no Brasil, mas alguns políticos teimam em minimizar o perigo.

Vejam o caso de Lula. Desde o começo do ano ele rosna contra o Banco Central (foto), tentando obter na marra uma queda na taxa de juros. A taxa é a ferramenta do BC para influir sobre o ritmo da atividade econômica e, por consequência, sobre a inflação.

Enervado com a incapacidade de mandar no BC, Lula enxergou um caminho alternativo. “Se a meta de inflação está errada, muda-se a meta”, disse ele.

A meta “errada”, para o presidente, é aquela que não permite à economia operar na temperatura que lhe agradaria: bombando com muito crédito, consumo e investimento.

Stephen D. King encerra o seu livro com 14 lições sobre inflação. Algumas delas são especialmente úteis em um país governado por Lula:

Governos democraticamente eleitos sempre são tentados pela inflação, sobretudo quando muito endividados. A inflação desvaloriza a moeda e reduz o peso da dívida pública, substituindo duas alternativas para solucionar o problema fiscal cujo impacto político se faz sentir muito mais rapidamente: o aumento de impostos ou o corte de gastos públicos.

Uma vez enraizada, a inflação é um processo profundamente injusto e antidemocrático: o problema não é apenas o descompasso entre o aumento dos preços e da renda, mas também o fato de que os mais ricos têm mais chances de se defender da inflação do que os pobres.

Inflações “modestas” podem ser mais difíceis de combater do que uma hiperinflação porque, nesses casos, a culpa pela inflação costuma ser atribuída a “forças que o governo não controla”. As medidas necessárias são, assim, adiadas.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne nesta quinta-feira (28), e o grande debate será sobre as metas de inflação para os próximos anos.

A reunião acontecerá dois dias depois de o Banco Central ter divulgado o seu mais recente relatório sobre as perspectivas da taxa de juros, com um recado claro: se as metas de inflação forem mantidas, a Selic, hoje em 13,75%, pode começar a cair em agosto. Se houver mudança nas metas, no entanto, a redução na Selic pode ser adiada.

O Antagonista apurou que o recado do BC foi ouvido no Planalto, mas por razões puramente pragmáticas. Apesar de rosnar há meses contra o Banco Central, o governo não conseguiu derrubar a taxa de juros na marra. Seria burrice pôr em risco o objetivo de diminuir a Selic quando ele parece estar ao alcance da mão.

Em breve, no entanto, a influência de Lula sobre o BC vai aumentar. Ele poderá indicar dois novos diretores para o banco em dezembro, ocupando quatro cadeiras de um total de nove. No final de 2024, será a vez de o odiado Roberto Campos Neto deixar a presidência da instituição.

Será então o momento de verificar se a ideia de afrouxar um pouco o controle da inflação para esquentar a economia vai voltar com tudo. O petismo está sempre pronto a operar com “um pouquinho a mais de inflação” para atender ao seu interesse político imediato. O futuro a gente vê depois.

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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