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5 minutos de leitura 28.07.2022 17:10 comentários
Economia

O BC americano cede às pressões políticas

Ontem (27), o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do banco central americano, o Fed, reuniu-se para decidir o novo nível da taxa de juros, dando continuidade ao movimento de alta que veio como reação a níveis inflacionários não vistos em mais de quatro décadas...

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O BC americano cede às pressões políticas
Foto: Official White House Photo by Erin Scott

Ontem (27), o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do banco central americano, o Fed, reuniu-se para decidir o novo nível da taxa de juros, dando continuidade ao movimento de alta que veio como reação a níveis inflacionários não vistos em mais de quatro décadas.

Em geral, os analistas esperavam que o aumento fosse de 75 pontos-base e acertaram, o que elevou os juros para 2,50% ao ano. Essa alta foi igual à da reunião passada e, para os padrões americanos, é bem rara: a última nessa intensidade havia ocorrido em 1994. No entanto, apesar disso, o movimento foi comemorado pelo mercado financeiro, que a julgava necessária, uma vez que a inflação oficial rodava a 10% ao ano.

No mundo econômico, as pessoas sabem que a consequência natural de combater os juros é arriscar jogar o país numa recessão —um processo necessário, por mais que seja doloroso, para se livrar do mal maior que é a alta indiscriminada dos preços. Porém o mundo político não gostou nem um pouco disso.

O presidente Joe Biden (foto) está com o seu índice de reprovação em patamares recordes para um líder na história moderna do país, e grande parte da população o culpa pela alta da inflação. Ele tentou jogar a culpa na invasão da Ucrânia, mas a população não engoliu, pois os preços começaram a subir muito antes do conflito.

Neste momento, a perda de popularidade é especialmente preocupante para os democratas (partido do presidente), com maioria no Congresso e no Senado, porque teremos eleições para as duas Casas em novembro. Diante disso, muitos especialistas já veem como consequência que os republicanos ganharão o controle de ambas.

Logo, assim que Jerome Powell, presidente do Fed, subiu os juros por pressão (inclusive do próprio Biden), o partido no poder percebeu que uma recessão seria algo desastroso politicamente, numa situação que já é precária. Assim, a cúpula do partido se reuniu e começou a dizer que, se houvesse recessão, a culpa seria do BC americano.

A narrativa seria dizer que o órgão, por ser totalmente acadêmico e desligado da realidade, só se importava com índices econômicos e não com a população, diferentemente dos democratas, que sentem os anseios do povo. Isso chegou ao ponto de, na véspera da reunião do Fomc, a senadora Elizabeth Warren chegar a dizer publicamente que “uma recessão vem por aí, e é totalmente culpa do Fed”.

Bem, o BC americano pode ser independente, mas não é apolítico nem ingênuo, e entendeu que precisava mudar sua estratégia para se defender. Se conseguissem evitar uma queda na economia até as eleições, a pressão se reduziria e eles poderiam voltar a fazer o seu trabalho de combate à inflação. E foi isso que ocorreu: em uma entrevista depois da alta esperada dos juros, ontem à tarde, Powell disse para o mundo acreditar que, no meio do ano que vem, a inflação estará de volta aos 2,4% ao ano e que a próxima decisão da instituição dependerá dos próximos dados econômicos a serem divulgados.

Com isso, o mercado entendeu que o ciclo de alta de juros vai ser menor e que a chance de uma recessão se reduziu. A reação imediata, de praticamente todas as Bolsas do mundo, foi de festa e com grandes altas, de forma generalizada. Em suma, o Fed percebeu que ia ser usado como bode expiatório e reagiu.

No entanto, como fica a parte econômica? Acreditamos que essa nova postura do Fed deva durar por alguns meses; no entanto, eles terão que voltar a endurecer o tom, mesmo arriscando uma recessão, porque as pressões inflacionárias são muito maiores do que qualquer coisa vista nos últimos 40 anos, e isso não se resolve subindo os juros de zero para 3,5%.

Porém acreditamos que eles sabem disso e só estão “comprando tempo” para não sofrerem com as pressões eleitorais. Estrategicamente, eles estão corretos. Só esperamos que esse adiamento não alimente a inércia inflacionária, o que produziria juros ainda mais altos mais para a frente e prejudicando —como sempre— a população e não os políticos.

Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações.

Nota: movimentos na economia americana causam impactos nos mercados de todo o mundo, incluindo o Brasil, e você precisa estar preparado para não ser pego de surpresa. Na série “Você Gestor”, o especialista em macroeconomia Rodrigo Natali, com o auxílio de Nícolas Merola, analista financeiro certificado (CNPI), simula uma carteira multimercado em tempo real para levar até você as melhores sugestões de investimentos em qualquer cenário. Conheça o programa “Você Gestor” clicando aqui.

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