Ivan Sant’Anna na Crusoé: 05.08.24, o crash que não aconteceu
Grandes tombos registrados na segunda-feira, 5, nos fazem lembrar da natureza de diferentes crashes da bolsa. Esse não foi um desses casos
Acordei às 4 horas da segunda, 5, para assistir às competições dos Jogos Olímpicos de Paris.
Antes de ligar a TV, dei uma passada, como faço todos os dias, pelo site da Bloomberg.
Para meu espanto, a Bolsa de Tóquio sofrera uma queda de 12,4%, a maior desde o crash de outubro de 1987.
Como não podia deixar de ser, as bolsas da Europa acompanharam, sofrendo fortes perdas.
Para as bolsas americanas, as expectativas eram as piores possíveis. No mercado noturno (de domingo para segunda), as ações do índice Nasdaq caíram tanto quanto as de Tóquio.
Enquanto esperava a abertura da B3, me lembrei de um trecho de meu livro Os mercadores da noite.
Nas páginas 39 e 40 da edição da Inversa, está escrito:
“A maioria dos fundos americanos era administrada por computadores através de programas de negociação. Esses programas tomavam decisões baseadas em análise técnica e matemática das cotações dos diversos mercados.
Naquele domingo, quase todos os dirigentes de fundos administrados por computador tiveram a mesma ideia. Foram para seus escritórios e simularam nos programas de suas máquinas uma violenta queda no Índice Dow Jones. Simularam também uma forte baixa do dólar e grande alta no mercado de ouro.
O resultado deixou-os apavorados. Com os esfíncteres soltos, estômagos contraídos e cabeças latejando, iniciaram a angustiante espera da abertura dos mercados.
E os pequenos e médios investidores? Os profissionais liberais, os funcionários do governo, os militares aposentados, as viúvas, os artistas, os pequenos comerciantes, as prostitutas, enfim, todos os que contam com seus investimentos para compra da nova casa, troca de carro, viagens de férias, doenças e aposentadoria?
Também haviam lido os jornais e assistido à TV nos últimos três dias. Agora, em suas casas, todos pensavam a mesma coisa. Se a crise era tão séria, como afirmavam os entendidos, melhor seria vender em primeiro lugar.
Já era meio da noite na Europa. O sol se punha na América e nascia no Extremo Oriente. A decisão fora tomada. Os profissionais de mercado, os grandes empresários, os chineses, os magnatas do petróleo, os bombeiros de Tóquio, os administradores de fundos e toda a multidão de pequenos e médios investidores iriam vender ações na abertura dos mercados e tratar de se defender de qualquer maneira.”
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