Felippe Hermes na Crusoé: Banqueiros e militantes
Situação idílica americana em relação ao dólar, ao contrário do que se prega por aqui, não é exatamente confortável. E é sobre isso que precisamos falar
“Os mercados podem continuar irracionais por mais tempo do que eu ou você podemos continuar solventes” – John Maynard Keynes.
Em julho de 2023 fiz por aqui, nesta mesma coluna, uma pequena provocação acerca da dívida americana. O título “você está pronto para pagar a dívida americana?”, já revela o tom e boa parte do que você precisa entender.
Desde que Lord Keynes perdeu em Bretton Woods e os EUA ganharam, o dólar se tornou de fato e de direito a moeda global. Com isto, a maior economia do planeta passou a gozar de um “privilégio exorbitante”, como definiu o ministro das finanças da França, Valery Giscard.
Em suma, como disse Giscard, “custa apenas alguns centavos de dólar para os Estados Unidos imprimir uma nota de 100 dólares. Mas muitas horas de trabalho para que o resto do mundo tenha acesso a ela.”
Por décadas os Estados Unidos têm feito uso deste privilégio, mantendo-se em uma inflação relativamente estável e baixa e garantindo que sua população não precise fazer o sacrifício de poupar.
Ao contrário, países como o Brasil fazem de bom grado o sacrifício de economizar para alocar recursos nos títulos americanos. Por aqui, essa atitude gera bons frutos aos governos, mesmo à esquerda, que comemoram com êxito o fato de acumularem dólares em reservas internacionais, ainda que estes dólares custem 11% ao ano para nós e nos rendam 3% em troca.
Mas essa situação idílica americana, ao contrário do que se prega por aqui, não é exatamente confortável. E é sobre isso que precisamos falar.
Retomei este tema após uma fala bastante específica. André Esteves, o banqueiro mais poderoso do país, reuniu CEOs e inúmeros figurões da política e economia do continente para realizar uma conferência.
Dentre as falas, além dos elogios ao ministro Fernando Haddad (algo normal para quem é dono de um banco com 1,6 trilhão de reais sob custódia), Esteves fez coro a um argumento bastante comum no Brasil: por que os EUA podem ter uma dívida de 120% do PIB e no Brasil, um déficit de 2% do PIB é o fim do mundo?
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