Entre mercado e Mercadante, Haddad escolhe Prates
Nome do presidente do BNDES como eventual substituto de Prates ajudou a colocar o ministro da Fazenda contra a mudança
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, ganhou sobrevida nesta semana após ganhar o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em reunião com o presidente Lula, o ministro defendeu que a demissão de Prates teria uma repercussão ruim no mercado em um momento em que a equipe econômica busca acalmar os investidores viabilizando o pagamento de dividendos extraordinários da companhia.
Mas a defesa do atual presidente da petroleira, atende a outro interesse de Haddad. O ministro da Fazenda busca inviabilizar a indicação do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Os dois têm divergências antigas em relação à condução da economia do país e conflitos dentro do PT paulista.
A ida de Mercadante para a Petrobras seria uma derrota pessoal para o ministro, uma vez que fortaleceria o rival que assumiria o comando da maior empresa do Brasil. Além disso, Haddad perderia força na interlocução com o mercado, tendo apenas um representante no Conselho de Administração da estatal, o secretário executivo adjunto da Fazenda, Rafael Dubeux.
Os acionistas minoritários também temem Mercadante na Presidência da petroleira, pois entendem que a cadeira seria ocupada por alguém com perfil mais disposto a efetivar missões do Planalto, unindo forças com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), principais artífices da fritura pública de Jean Paul Prates desde o ano passado.
De acordo com fontes da companhia, Prates tem dito nos bastidores que Mercadante representaria uma volta ao passado e um atraso para a empresa. Os acionistas minoritários demonstrado concordância com o ex-senador e temem que uma eventual ida do presidente do BNDES para a petroleira prejudique o diálogo com a Diretoria da Petrobras
O mercado tem também pressionado auxiliares de Haddad por meio de conselheiros dos minoritários e fizeram chegar a Lula o pedido de permanência de Prates na companhia até, pelo menos, que os dividendos extraordinários sejam liberados pela União.
Francisco Petros, candidato dos minoritários que tenta permanecer no Conselho da Petrobras, lidera o movimento pela permanência de Jean Paul e tem buscado ampliar a articulação com assessores da Fazenda para angariar apoio na questão. Em entrevistas recentes, o minoritário também defendeu publicamente a permanência de Prates, elogiando a atuação do petista e pedindo que a governança da companhia seja respeitada.
Em outro front, Prates articula a distribuição de 100% dos dividendos extraordinários com a Fazenda e com representantes dos minoritários na Petrobras, além de viabilizar 20 bilhões de reais para pagar a dívida da petroleira com o Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais). A movimentação seria um agrado aos investidores e ao caixa da União, ajudando Haddad a manter a meta fiscal de déficit zero desenhada para este ano.
Para aderir ao acordo CARF e liberar o pagamento, é necessário que ao menos um minoritário vote a favor da proposta. Dessa forma, os interlocutores de Haddad colocam como moeda de troca à permanência de Prates o apoio de Petros à proposta. Francisco Petros teria se comprometido a votar favoravelmente à medida após as eleições para renovação do Conselho da petroleira (no dia 25 de abril) para não prejudicar a própria candidatura.
Prates mantém um bom relacionamento com representantes dos minoritários, com a intenção da viabilizar a aprovação de medidas que não teriam o apoio de setores do governo. É frequente, por exemplo, a participação do presidente da Petrobras em jantares patrocinados pelo bilionário Juca Abdalla, conselheiro minoritário, antes das reuniões do Conselho, para definir o posicionamento em pautas.
Outro integrante dos minoritários que tenta blindar Prates é Marcelo Mesquita. Em entrevistas recentes, o conselheiro reclamou da troca constante de presidentes da petroleira nos últimos anos, dizendo que as mudanças no cargo têm sido prejudiciais para a Petrobras. Mesquita tem um posicionamento mais pró-mercado e chegou a defender a privatização da Petrobras em entrevista recente.
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