A culpa não foi só de Dilma
Economista Samuel Pessôa diz que é errada a "interpretação de que os erros de política econômica do petismo foram cometidos pela Dilma e alerta para estratégia petista de mascarar o passado
O economista Samuel Pessôa esclareceu, em entrevista ao Estadão, o raciocínio pelo qual os petistas tentam levar o Brasil a passar pelos mesmos erros de política econômica dos primeiros governos de Lula (à direita na foto). “O Lula está repetindo o que ele já tinha feito. Há uma interpretação de que os erros de política econômica do petismo foram cometidos pela Dilma [Rousseff, à esquerda na foto], mas essa interpretação é errada”, diz Pessõa.
Lula retomou nos últimos dias as pressões públicas sobre a Petrobras e a Vale. No caso da petroleira, a intervenção do governo na questão da distribuição de dividendos aos acionistas fez as ações da estatal despencarem na bolsa de valores.
“A deterioração da qualidade da política econômica começou no Lula 2. A Dilma reforçou isso e ampliou. E um dos itens que constituem esse pacote de erros de medida de política econômica cometidos pelo petismo foi o intervencionismo”, explica Pessôa.
“Meio getulista“
O economista destaca que “Lula é intervencionista”, “meio getulista nesse sentido”. “A impressão que eu tenho é que ele está autoenganado. O Lula construiu uma teoria para explicar a grande crise brasileira do petismo, que é a crise de 2014 a 2016. Não só o Lula, mas o petismo construiu uma narrativa”, diz, mencionando que a culpa foi jogada sobre o hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB), que questionou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a derrota para Dilma em 2014.
“Evidentemente, esse argumento que o petismo criou é muito conveniente, porque desresponsabiliza quem estava com a caneta da Presidência da República entre 2003 e meados de 2016 por qualquer coisa que tenha acontecido na economia e na sociedade. O argumento é meio esdrúxulo, principalmente com o sistema político presidencialista, em que o presidente é forte, mas é um argumento que atende aos interesses do petismo e funciona como um autoengano”, traduz Pessôa para quem segue fingindo que não entendeu ainda.
Petrobras na mira
É com base nessa narrativa que maquia o passado que Lula avança à luz do dia sobre a Petrobras. “Quem cria o argumento sabe que não é verdadeiro, mas, conforme o tempo vai passando e o argumento vai sendo repetido, ele vai adquirindo uma vida própria e uma veracidade na cabeça daquelas pessoas que inventaram o argumento”, analisa o economista, dizendo que é isso que deixa os petistas “à vontade para voltar a praticar a mesma política na Petrobras”.
Para quem já esqueceu de que se trata essa política petista, Pessôa relembra, como O Antagonista também vem fazendo há meses:
“A Petrobras foi usada como um instrumento de política de desenvolvimento econômico. Nas minhas entrevistas ou nos meus escritos, eu nunca enfatizei muito a questão da corrupção, porque sempre achei que a corrupção era o menor dos problemas. O problema maior foi o erro do projeto de desenvolvimento econômico. Achar que é possível sustentar o desenvolvimento de um país a partir das ações de uma grande petroleira e, com isso, alavancar uma indústria naval, uma indústria de plataformas, de refino. O resultado disso a gente viu. A petroleira virou a mais endividada do mundo e passou por uma grande crise. O que está acontecendo é uma expressão do fato de o Lula acreditar nas próprias teses.”
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