Josias Teófilo na Crusoé: O relevante e o irrelevante no cinema
Perde-se muito da espontaneidade de uma obra de arte quando é preciso justificar uma função para ela
Critica-se no cinema brasileiro a inexistência de filmes sobre temas e personagens importantes da nossa história.
Com efeito, não existe nenhum filme sobre Dom Pedro II, Carlos Gomes, Gilberto Freyre, ou sobre a Invasão Holandesa, a Guerra do Paraguai, e por aí vai.
Mas existe também o problema oposto: faltam filmes sobre temas banais ou irrelevantes, ou sobre temas absurdos.
Os dois tipos de problemas, na verdade, têm uma origem comum que é a falta de maturidade da indústria cinematográfica brasileira, que deveria ter uma diversidade muito maior de temas — relevantes e irrelevantes, banais e profundos, etc.
A cultura dos editais, implantada durante os governos do PT, criou a necessidade de dar uma justificativa social para cada projeto cultural.
Perde-se muito da espontaneidade de uma obra de arte quando é preciso justificar uma função para ela, ainda mais uma função social.
Escrevi que gostaria de fazer documentários sobre temas totalmente irrelevantes. Por exemplo, a história do karatê em João Pessoa, na Paraíba.
Ou a história do movimento punk em Belém do Pará.
Ou sobre filmagens de casamentos no Brasil nos anos 1970.
Ou sobre a história de algum sujeito que é um hare krishna solitário morando numa cidade do interior.
Teria que ser um projeto bem realizado, com pesquisa e um cuidado especial com imagens de arquivo, e o resultado poderia ser um filme bastante relevante sobre um tema irrelevante.
Espero um dia poder fazer projetos desse tipo — a dificuldade, evidentemente, é conseguir patrocinadores, estatais ou privados, para um projeto assim, por motivos óbvios.
O jornalismo padece do mesmo problema do cinema: estamos saturados…
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