Josias Teófilo na Crusoé: O mal-estar cultural na esquerda
Trailer do filme "Transe", de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, suscitou reclamações até de militantes
A esquerda brasileira – mais ainda na cultura – tende a funcionar a partir de consensos. Ela faz um trabalho incessante de ocupação de espaços e legitimação tendo em vista a ação política. Assim, quando um conflito interno vem à tona, é porque a situação está grave, mais grave do que aparenta.
Essa semana o trailer do filme Transe, de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, causou certo furor no X (ex-Twitter). Foram milhares de comentários negativos sobre a estética do filme, a caracterização dos personagens, os clichês etc. Falou-se até do Caetanismo Cultural, termo que eu nunca tinha ouvido mas que faz todo sentido naquele contexto.
Alguns comentários eram divertidos: “O nome do filme é transe porque serve exatamente pra isso. Leva a pessoa na tua casa, coloca esse filme e transe, porque assistir não rola”. Outra pessoa disse: “Alguém pediu ao ChatGPT ‘um roteiro baseado em Terra em Transe, mais curto, dinâmico e adaptado ao gosto da juventude atual’”. No Youtube, um dos comentários com mais curtidas foi: “Se o objetivo era criticar a esquerda, fazendo caricatura dela, parabéns, acertaram em cheio”.
O filme trata de um trisal composto por uma moça e dois jovens que são impactados pela ascensão nas pesquisas e pela eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Eles conversam sobre a situação política, vão a shows, interagem em passeatas. A repulsa causada pelo trailer é primeiro relacionada ao tema: a política foi tão explorada pelo cinema brasileiro que houve uma profunda saturação. Na verdade, essa saturação já era muito forte em quem não é militante de esquerda — basta ver a queda nos últimos anos do público do cinema brasileiro —, mas a situação chegou a um ponto em que os próprios militantes estão reclamando.
Outro motivo de repulsa é puramente estético: a opção pela câmera na mão e a mistura de documentário e ficção. Assim, não há muita diferença do filme (ao menos o que vemos no trailer) para Democracia em Vertigem, de Petra Costa.
Leia mais aqui; assine Crusoé e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)