Josias Teófilo na Crusoé: “O estético e o extraestético”
Há no livro Formalismo & Tradição Moderna, de José Guilherme Merquior, uma epígrafe que por si só dá ensejo a uma reflexão bastante abrangente sobre arte...
Há no livro Formalismo & Tradição Moderna, de José Guilherme Merquior, uma epígrafe que por si só dá ensejo a uma reflexão bastante abrangente sobre arte. É do crítico polonês Jan Mukarovsky. Escreve ele: “Uma obra calculada com base numa concordância absoluta com valores vitais reconhecidos é sentida como fato possivelmente estético, mas não artístico – é sentida como algo simplesmente agradável (kitsch). Somente a tensão entre valores extraestéticos da obra e os valores da coletividade confere àquela a possibilidade de influir na relação entre o homem e o real, que é a missão própria da arte”.
Podemos pensar a história da arte como um progressivo acréscimo do extraestético ao estético. É que as formas da arte se esgotam, deixam de dialogar com o real e se fecham em formalismos. Claro, todo artista parte de estruturas formais já estabelecidas, ele não cria do zero. Só que a tendência é que a forma seja copiada cada vez mais exteriormente, tornando-se uma caricatura. É por isso que os estilos decaem. Aí é preciso uma renovação. É preciso injetar realidade nas formas da arte.
Existem momentos em que esse processo fica muito evidente. Na década de 1960, a indústria cinematográfica estava em crise – aquelas grandes produções em Cinemascope começaram a dar prejuízo. E pior: já não inspiravam mais. E aí surgiu uma geração que ficou conhecida como Nova Hollywood e trouxe não só uma nova linguagem cinematográfica, mas também novos temas. Ou seja, trouxe valores extraestéticos ao cinema.
Algo semelhante aconteceu com outros movimentos cinematográficos como o Neorrealismo Italiano, a Nouvelle Vague, o Cinema Novo no Brasil. Mas todos eles, com sua linguagem e suas convenções, vieram a repercutir em inúmeras outras obras, e se esgotaram. Aí…
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