Josias Teófilo na Crusoé: A tradição da arte do outro mundo
O Réquiem de Maurice Duruflé é uma obra estranhíssima. Dá a impressão que a partitura foi deixada no Planeta Terra sem grandes explicações
Fui ao concerto da Osesp da semana passada sem conhecer a peça principal que seria tocada, o Réquiem de Maurice Duruflé, sob a regência de Giancarlo Guerrero.
A obra é estranhíssima – o que torna a experiência mais rica (não existe arte sem estranhamento) –, dá a impressão que a partitura foi deixada no Planeta Terra sem grandes explicações.
No programa do concerto há informações biográficas sobre Duruflé: entre os 10 e os 16 anos ele cantou no coro da Catedral de Rouen – uma das maiores catedrais góticas da França – e lá começou a estudar piano e órgão, especializando-se neste instrumento no Conservatório de Paris. Esse dado me dá a chave para entender o Réquiem: é de uma estranheza medieval.
Uma catedral gótica, diferente de uma igreja barroca (que geralmente fica num pátio), não se situa adequadamente no espaço urbano da cidade (tal como entendemos essa adequação atualmente) – ela geralmente parece ter pousado ali, num lugar qualquer da cidade, sem motivo aparente. Ou que brotou no meio da cidade, sem um plano, e foi crescendo do nada até chegar ao tamanho atual.
O pátio em frente à Catedral de Notre Dame de Paris foi construído modernamente. Antes, a catedral ficava cercada de casas menores e ruas estreitas.
A Catedral de Rouen é assim até hoje. A construção é tão grande, tão desproporcional em relação ao entorno que não é possível ver sua fachada integralmente, a não ser de longe.
O mesmo acontece em relação à Catedral de Chartres: nada nos prepara, andando por ruas estreitas e irregulares, para lidar com a grandeza desproporcional da catedral – desproporcional ainda hoje, 772 anos depois de sacralizada.
O entendimento corrente sobre a Idade Média é de uma época que se espiritualizou por causa do declínio das condições materiais com a invasões bárbaras e a queda do Império Romano.
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