Tolstói e a afirmação falsa de Bolsonaro
Como registramos, Jair Bolsonaro (foto) justificou da seguinte maneira a sua provável filiação ao PL de Valdemar da Costa Neto, a alma mais honesta do Brasil depois de Lula: "Todos os partidos têm problemas. Eu não consegui fazer o meu e foi impossível ter um partido.” Ao ler a notícia, lembrei-me da frase inicial do romance Anna Karenina, do escritor russo Liev Tolstói: "Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família é infeliz à sua maneira". Peço perdão a Tolstói, coitado, por usá-lo para falar de Jair Bolsonaro, mas a frase, uma das mais famosas da literatura, é perfeita para mostrar como o presidente da República faz uma afirmação falsa...
Como registramos, Jair Bolsonaro (foto) justificou da seguinte maneira a sua provável filiação ao PL de Valdemar da Costa Neto, a alma mais honesta do Brasil depois de Lula: “Todos os partidos têm problemas. Eu não consegui fazer o meu e foi impossível ter um partido.”
Ao ler a notícia, lembrei-me da frase inicial do romance Anna Karenina, do escritor russo Liev Tolstói: “Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família é infeliz à sua maneira”. Peço perdão a Tolstói, coitado, por usá-lo para falar de Jair Bolsonaro, mas a frase, uma das mais famosas da literatura, é perfeita para mostrar como o presidente da República faz uma afirmação falsa. Se é verdade que todos os partidos têm problemas, não é menos verdadeiro que cada um tem problemas à sua maneira.
A geleia geral política brasileira é composta por ingredientes diferentes: há os partidos ideológicos, os que misturam corruptos e honestos e os fisiológicos e corruptos na sua quase totalidade. Ou seja, têm problemas menos ou mais danosos e, portanto, mais ou menos controláveis. Jair Bolsonaro certamente não fez a melhor escolha, e não é que tivesse muitas, se ainda dá para levar a sério o discurso de moralidade pública que o elegeu — e agora tenta dourar a opção — ou a escassez delas — com essa frase ligeira de que “todos os partidos têm problemas”.
A pergunta a ser feita é por que Jair Bolsonaro não conseguiu montar um partido e transformou-se nesse personagem exótico de um presidente da República sem agremiação. A resposta é que ele não tem programa nenhum, a não ser sobreviver como parasita dos partidos por que passa: foram espantosos oito partidos em nove mandatos. Instalado no Palácio do Planalto, ele quis abrir a sua própria propriedade, não um partido, seguindo a trilha de outros donos de agremiação. Mas Jair Bolsonaro é um presidente fraco demais para tomar os espaços fisiológicos de quem quer que seja. Restou-lhe continuar na condição de parasita.
Para filiar-se ao PL, ele alavancou-se com o que tem: os deputados bolsonaristas empedernidos que sobraram na União Brasil e uns poucos nomes que podem ter chance nas eleições para o Senado. É muito pouco para um presidente da República, e nada tem a ver com programa (no sentido político do termo, pelo menos) para o país. Para Valdemar Costa Neto, o que interessa na sua associação com Jair Bolsonaro é, para além de fagocitar ainda mais verbas e cargos neste final de governo, aumentar o número de deputados estaduais e federais do PL, visto que o presidente da República ainda gozará de um eleitorado fiel suficientemente grande para empurrar candidaturas nas eleições para o Legislativo. É uma relação oportunista, passível de ser rompida a qualquer momento, a depender das condições de temperatura e pressão.
Cada família é infeliz à sua maneira e cada partido tem problemas à sua maneira. Presidentes também.
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