The Economist descreve revide do ‘antigo regime’ contra Lava Jato
Revista britânica acerta ao mostrar que reação veio de todos os lados do espectro político e também do STF
A revista britânica The Economist publicou na sua edição desta quinta-feira, 7, uma reportagem sobre o combate à corrupção na América Latina. A Lava Jato e suas operações derivadas estão no centro da análise, visto que vários países vizinhos embarcaram na ciranda de pagamentos de propina e desvio de dinheiro público inaugurada por empreiteiras e políticos brasileiros.
A publicação britânica descreve o movimento pendular que ocorreu na última década: primeiro, a descoberta do esquema que pilhava a Petrobras e outras estatais; em seguida, a reação do “antigo regime” (expressão usada no texto).
O título da reportagem é um retrato bem pouco lisonjeiro do momento atual: “A corrupção está em alta na América Latina” (Corruption is surging across Latin America).
Ascensão e revanche contra a Lava Jato
Investidas dos políticos para controlar os órgãos de combate à corrupção no Peru, no México, em Honduras e na Guatemala são mencionadas pela Economist, mas a reportagem se detém de fato no caso brasileiro.
A ascensão da Lava Jato é descrita até o ponto em que “quase um terço dos senadores e praticamente metade dos governadores” se viram implicados em alguma medida nas investigações. A derrocada é atribuída a “erros e comportamento arrogante de investigadores zelosos”, que acabaram produzindo “rachaduras que os políticos exploraram”.
A Economist acerta ao descrever a revanche contra a Lava Jato como vindo de todas as direções, e não só do PT, o partido mais implicado no escândalo.
Segundo a publicação, o ex-presidente Jair Bolsonaro “teve suas próprias razões para romper com a Lava Jato, apesar de ter surfado a onda de sentimentos que ela criou”. Quando as investigações se aproximaram de um de seus filhos, ele “indicou um Procurador Geral da República que arquivou mais de 100 pedidos de investigação” contra ele e também “desmontou a força-tarefa da Lava Jato”.
Antigo regime
A revista dá o devido destaque ao papel do STF na reação do “antigo regime”. Registra falas recentes de Gilmar Mendes, que pretendem descartar a operação como mero produto “de influência estrangeira”.
Lembra da censura a Crusoé em 2019, quando revelamos que o ministro Dias Toffoli era tratado por Marcelo Odebrecht como “amigo do amigo de meu pai” — ou “the friend of my father’s friend”, no inglês da Economist.
E destaca a suspensão dos acordos de leniência e J&F e Odebrecht (atual Novonor) determinada pelo próprio ministro: “As decisões recentes do ministro Toffoli mostram que o revide contra os esforços anti-corrupção continua”.
A Economist, enfim, viu os fatos como eles são, e não o Brasil para inglês ver das fantasias do “antigo regime”.
“O ancien régime tem revidado e obtido vitórias”, conclui a revista. “Mas deveria tomar cuidado. Numa pesquisa divulgada em 3 de março, uma plurlidade de brasileiros disse que a Lava Jato foi encerrada por interesses políticos. Nada menos que 74% dos entrevistados acreditam que as decisões recentes da Suprema Corte ‘encorajam a corrupção’”.
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