Tese do PL sobre urnas antigas é “completamente equivocada”, diz professor da USP
O argumento de que a presença de ID nos logs de algumas urnas impossibilita o rastreio do log destas máquinas é "completamente equivocado". A conclusão é do professor Marcos Antônio Simplicio Junior, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Um dos responsáveis pela pesquisa da segurança das urnas dentro da instituição...
O argumento de que a presença de ID nos logs de algumas urnas impossibilita o rastreio do log destas máquinas é “completamente equivocado“. A conclusão é do professor Marcos Antônio Simplicio Junior, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Um dos responsáveis pela pesquisa da segurança das urnas dentro da instituição, o especialista em segurança de redes e criptografia explicou a O Antagonista por que a proposição não é cabível.
“Embora os logs de anos anteriores não estejam disponíveis para a verificação dessa impressão, não conseguimos encontrar evidências de que haveria esse problema em anos anteriores”, diz Marcos Simplicio. “Além disso, como os documentos principais gerados pela urna para fins de contabilização de votos (a saber: boletim de urna, o BU, e registro digital do voto, o RDV) têm o identificador correto, tudo indica ser o caso de um problema restrito ao aplicativo ‘logd’, que deveria gerar aquele número nos logs.”
O tema foi central para o pedido do Partido Liberal (PL) pedir a revisão extraordinária dos votos do segundo turno das eleições presidenciais – que acabou sendo duramente reprimida por Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Agora, embora seja o problema de falta do ID nos logs de algumas urnas (e só nos logs, porque no BU e no RDV, que contêm os dados de votação de fato, o problema não ocorre), a conclusão de que isso impossibilita o rastreio do log de alguma forma é completamente equivocada”, conclui o professor. Ele diz que qualquer pessoa pode, no site do TSE, encontrar estes arquivos, relativo a qualquer urna, e identificar onde este aparelho foi utilizado, em ambos os turnos.
Ele ainda aponta outra questão sobre o caso do PL – a de que as falhas teriam sido encontradas apenas em um dos turnos, e apenas na eleição presidencial. “Do ponto de vista técnico, não consigo ver qualquer sentido [no argumento]: se o problema observado nos logs fosse de fato sério (não é), então ele afetaria o primeiro e o segundo turnos de forma igual, para todos os cargos“, pondera o professor. “Afinal, o software é exatamente o mesmo nos dois turnos.”
O mesmo argumento é apresentado por Volgane Carvalho, que secretário-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep). “Nós não podemos ter uma dúvida seletiva, no sentido que eu só desejo apurar a existência de uma irregularidade no segundo turno”, disse. “Se houver irregularidade a ser apurada, tem que se apurada de maneira integral, abrangendo todos os caros em disputa e em todos as situações que aquela urna recebeu voto.”
Carvalho chamou a falta de identificação das urnas como “fora da realidade”.
Simplicio, o professor da USP, disse que na comparação com urnas de anos anteriores, as máquinas do modelo 2020 são mais rápidas, mas que isso não trouxe diferença de segurança consideráveis. “Não há uma grande diferença entre elas exceto o design mesmo”, conclui o professor. “O software é o mesmo. Os mecanismos de proteção, inclusive hardware criptográfico para proteger as chaves de assinatura (essas sim importantes para identificar a urna e os documentos que ela gera, inclusive logs) são essencialmente os mesmos.”
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