Substituto de Rivaldo Barbosa garantiu impunidade ao assassinato de Marielle, diz PF
Para a Polícia Federal, crime foi cometido mediante motivação torpe, ante a repugnância dos Irmãos Brazão em relação à atuação política de Marielle Franco
No relatório sobre a morte da vereadora Marielle Franco, a Polícia Federal afirma que o delegado Giniton Lages, que ficou no lugar do então titular do cargo na delegacia de homicídios, Rivaldo Barbosa, teria sido peça determinante para garantir a impunidade tanto aos executores quanto aos mandantes do crime.
Conforme a PF, Lages foi nomeado menos de 12 horas após a execução do crime, em março de 2018. Lages era uma pessoa de confiança de Rivaldo Barbosa, que foi preso hoje suspeito de ser um dos mandantes do crime.
“Com a assunção do cargo por Giniton, se operacionalizou a garantia da impunidade dos autores do delito. Inicialmente essa garantia se alastrou, inclusive, aos autores imediatos, o que foi narrado por Ronnie Lessa na terceira e última reunião em que participou na presença dos Irmãos Brazão, oportunidade na qual lhe foi indicado que Rivaldo estava promovendo a deflexão da investigação”, informa a PF.
“É possível verificar que, sob a ótica dos autores mediatos, o crime foi cometido mediante motivação torpe, ante a repugnância dos Irmãos Brazão em relação à atuação política de Marielle Franco e de seus correligionários em face dos seus interesses escusos”, acrescentou a PF.
Segundo as investigações, o ex-policial reformado Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora, apontou que a origem do planejamento da execução ocorreu no segundo trimestre de 2017.
Lessa afirmou que nessa época Chiquinho Brazão demonstrava “descontrolada reação à atuação de Marielle” para a votação do projeto de Lei à Câmara número 174/2016. O projeto trata da regularização de um condomínio em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. De acordo com a PF, esse foi um dos principais motivadores para o assassinato.
“No mesmo sentido, apontam diversos índicos do envolvimento dos Brazão, em especial do Domingos, em atividades criminosas, incluindo as relacionadas com milícias e grilagem de terras. Por fim, ficou designada a divergência no campo político sobre questões de regularização fundiária e defesa do direito de moradia.”
O relatório aponta que Marielle queria a regularização dos terrenos para fins sociais e defendia que o processo fosse acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio (Iterj) e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.
Os mandantes do crime buscariam a regularização sem respeitar o critério de área de interesse social.
Na manhã deste domingo, a Polícia Federal prendeu o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ), Domingos Brazão, irmão do parlamentar e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Os dois são suspeitos de terem ordenado a morte de Marielle Franco.
O delegado Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil do Rio e teria atuado para protegê-los, também foi detido. Os três negam a acusação.
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