“Silvio jamais interferiu”, diz Boris Casoy sobre TJ Brasil
"Eu tive completa e total liberdade no SBT", diz o jornalista, que ancorou o telejornal da emissora de Silvio Santos e analisa a relação do comunicador com o jornalismo: "Preferia o Aqui Agora""
Após carreira no jornalismo impresso, Boris Casoy (foto) estreou na televisão como âncora do TJ Brasil em 1988. Foi no telejornal do SBT que ele imortalizou o bordão “isso é uma vergonha!”, com que encerrou análises sobre a situação do país ao longo de quase 10 anos como apresentador do principal programa jornalístico da emissora de Silvio Santos.
O jornalista falou nesta terça-feira, 20, sobre sua relação com o falecido fundador do SBT ao programa Meio-Dia em Brasília.
“A condição que eu exigi para ir ao SBT foi de plena e total liberdade. Não se imaginou que eu iria fazer comentários. Eu que, de repente, achei que havia uma necessidade de comentar. Era o final do regime militar, o começo a administração do [José] Sarney, então as coisas ainda tinham uma visão muito estreita de liberdade de imprensa, o pessoal nem sabia como exercer”, comentou.
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“Eu não vim impregnado de grande desejo democrático, eu vim para esclarecer, fazer o que vocês fazem. Fui editor-chefe da Folha de S.Paulo, e toda aquela liberdade de que a gente gozava eu quis transplantar para o telejornal. E o Silvio nunca, jamais, em tempo algum, interferiu. Respeitou muito o compromisso que tinha comigo de total liberdade. Eu tive completa e total liberdade no SBT”, garantiu o jornalista.
Casoy comparou a liberdade que tinha com a principal concorrente do SBT. “A Globo liberou, mas não liberou tudo”. “Libera, tem limites, quem assiste aos jornais percebe. Essa fase da liberdade total eu não vejo mais nas emissoras de televisão. As pessoas duvidam, mas podem acreditar: eu tive liberdade total”, completou.
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O caos e o Aqui Agora
O jornalista ponderou que a relação de Silvio Santos com o jornalismo era mais complexa, contudo. “Eu via ele como estrategista de televisão, grande apresentador, talvez o maior que o país já teve. Ele tinha um nicho, mas titubeava muitas vezes com televisão. A gente sabe que ele tinha idas e vindas abruptas”, comentou.
“De repente todo mundo estava demitido, no dia seguinte voltava atrás. Um programa que ele telefonava e interrompia ou trocava de horário no mesmo dia. Tinha um pouco de caos nessa visão dele e nessa busca por audiência”, analisou Casoy.
O jornalista destacou que “o tipo de jornalismo que nós fazíamos no Telejornal Brasil não era o ideal dele”. “Ele preferia o Aqui Agora, que era muito vinculado a ele. Tinha uma visão policial, que algumas pessoas diziam na época ‘jornalismo popular’. Como se o Telejornal Brasil não fosse popular, e era muito popular.”
O empresário Silvio Santos
Na entrevista ao Meio-Dia em Brasília, Casoy disse que “como pessoa” Silvio Santos “era uma figura excelente, cumpridor dos seus compromissos, afável, acessível, conhecia as pessoas pelo nome”.
“Enfim, era uma extensão daquela figura que a gente conheceu no palco”, resumiu, mas ponderou sobre sua atuação como empresário. “Eu não vejo o Silvio como grande homem de negócios. Ele é uma figura complexa. É difícil você definir o Silvio com uma palavra ou duas. É um inteligência muito grande, uma esperteza muito grande, mas uma composição muito sofisticada.”
“Se você dividir entre o empresário e o artista, para facilitar as coisas, ele era muito artista. Com as virtudes e os defeitos dos artistas, vaidades. Ele era talvez um estrategista de programação, mas grande empresário… Ele teve sorte — nem sempre, porque teve o caso do Banco Panamericano — com as pessoas que o cercaram. Ele era um intuitivo, e a intuição é produto da inteligência, que soube se cercar de gente muito boa”, definiu Casoy.
No caso mencionado do Banco Panamericano, Silvio Santos chegou a pedir ajuda a Lula em 2010 para evitar a liquidação da instituição financeira devido a um rombo de 2,5 bilhões de reais. “Ele era um ser humano. Está sendo pintado como deus, mas era um ser humano falível como todos nós, mas tinha esse lado artístico, televisivo”, resumiu Casoy.
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