Rodolfo Borges na Crusoé: Ensaio sobre a cegueira seletiva da torcida
O favorecimento a quem mais reclama, que criou o “apito amigo corintiano” e o "VARmengo", é consequência da má qualidade da arbitragem brasileira
Para esta edição de número 325 de Crusoé, Rodolfo Borges escreve em sua coluna esportiva sobre as torcidas, de times beneficiados por erros de arbitragem, que defendem os juízes e não querem ser questionadas após o resultado positivo para sua equipe do coração.
Ocorre quase toda rodada do Campeonato Brasileiro. Uma decisão de arbitragem controversa ou escandalosamente errada beneficia um clube e passa a ser alvo de críticas na imprensa e nas redes sociais. Apenas um grupo aguerrido se posiciona olimpicamente ao lado do juiz responsável pela marcação do pênalti mandrake, como o marcado pelo VAR para o Corinthians na última partida contra o Grêmio, em Itaquera, ou da expulsão exagerada: a torcida do time beneficiado pela lambança.
Esses torcedores não estão interessados em defender o árbitro, evidentemente. Eles tentam blindar o próprio clube das acusações de favorecimento. O último exemplo mais expressivo disso ocorreu no jogo entre Flamengo e Criciúma, disputado em Brasília.
Um torcedor jogou uma bola para dentro de campo enquanto a partida estava rolando. A segunda bola ficou dentro da área do Criciúma enquanto o ataque do Flamengo avançava para a meta adversária. O defensor Barreto chutou a segunda bola na outra, desarmando Cebolinha, que se dirigia em direção ao gol.
O árbitro Pablo Ramon Gonçalves Pinheiro não titubeou em marcar pênalti, baseado na regra que proíbe “arremessar um objeto na direção da bola, de um adversário ou de um membro da equipe de arbitragem, ou tocar na bola com um objeto”. Mas a segunda bola não deveria estar ali.
Na mesma rodada do Brasileirão, o jogo entre Palmeiras e Cruzeiro foi interrompido para a retirada de balões de dentro de campo. Na disputa entre São Paulo e Juventude, o árbitro parou a partida para a retirada de rolos de papel higiênico arremessados pela torcida tricolor.
O árbitro de Flamengo e Criciúma tinha, portanto, ao menos duas opções no lance da segunda bola em campo: marcar o pênalti, como fez, ou interromper a partida para retirar a bola e evitar que algo como um pênalti viesse a ser marcado por causa da presença da segunda pelota.
O juiz escolheu a primeira opção, para a felicidade da torcida rubro-negra, mas a incômoda pergunta se impõe: e se a segunda bola estivesse na área do Flamengo, qual teria sido a decisão? É a questão que incomoda os flamenguistas, e o cerne de todo esse debate.
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