Recordações de uma festa de 15 anos
Como noticiado pelo jornal O Globo, José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, assinou acordo de delação premiada com a PGR e se comprometeu a devolver 200 milhões de reais aos cofres públicos, para livrar-se das acusações de ter corrompido políticos que o ajudaram a aprovar leis que beneficiavam a empresa da qual era dono, uma gigante na área de planos de saúde...
Como noticiado pelo jornal O Globo, José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, assinou acordo de delação premiada com a PGR e se comprometeu a devolver 200 milhões de reais aos cofres públicos, para livrar-se das acusações de ter corrompido políticos que o ajudaram a aprovar leis que beneficiavam a empresa da qual era dono, uma gigante na área de planos de saúde.
De acordo com o que foi ventilado até agora, ele prometeu entregar Renan Calheiros e Romero Jucá, além de outros nomes do Congresso. Também disse que entregaria José Serra, Aécio Neves e Antonio Palocci, conforme publicou a Crusoé.
Eu não conheço José Seripieri Filho, só de vista. E que vista — a do Jockey Clube de São Paulo. Fui levado à festa de aniversário de 15 anos da sua filha, em 2011, se não me engano. Ela estudava na escola americana de São Paulo e era colega do filho da minha então namorada. Fiquei impressionado com o luxo. Os enormes salões do Jockey haviam sido redecorados, paredes revestidas em tecido vermelho, e os comes e bebes eram de um padrão, como dizer, Família Safra. De embasbacar dinheiro velho e dinheiro novo, igualmente, o que não é fácil. Como a aniversariante nutria ambições artísticas, Seripieri Filho a havia mandado para Los Angeles, a fim de gravar um clipe com o melhor diretor americano de vídeos musicais. Coisa de profissional do MTV Awards. A filmagem foi projetada enquanto a moçada simulava um flash mob.
O que mais impressionou, contudo, foi a quantidade de políticos poderosos presentes à festa. Nunca vi tanto cacique reunido, e de todos os partidos. Eu jamais havia ouvido falar de José Seripieri Filho, confesso a falha, mas ele era bastante popular no Palácio dos Bandeirantes tucano e na Brasília multipartidária. Todos o chamavam de Júnior. Diante da minha perplexidade com o personagem, explicavam que ele era um típico self-made man, que havia tido a ideia brilhante de intermediar a aquisição de planos de saúde para sindicatos e entidades de classe. Uma delas era a Associação de Delegados de Polícia de São Paulo. De fato, tão numerosos na festa quanto os políticos eram os delegados de polícia. Estávamos bem protegidos.
Curioso, perguntei onde o pai da aniversariante morava. Era num prédio chamado Château Margaux (ou seria o Château Lafite?), no bairro de Vila Nova Conceição. Ri. Pobre é mesmo muito bobo.
A minha impressão é que José Seripieri Filho assinou uma delação que poderá ser bombástica, se não a desarmarem para virar rojão. Mas é só impressão, provavelmente ainda sob os eflúvios da festa de uma década atrás. Um flash mob da minha memória.
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