Quatro questões para Ernesto Araújo explicar à CPI
O ex-ministro Ernesto Araújo vai falar nesta terça (18) à CPI da Covid no Senado. Os senadores podem aproveitar a oportunidade para lançar luz sobre alguns documentos importantes...
O ex-ministro Ernesto Araújo vai falar nesta terça (18) à CPI da Covid no Senado.
Os senadores podem aproveitar a oportunidade para lançar luz sobre alguns documentos importantes.
1. O spray nasal de Israel
Em março deste ano, o ainda ministro Araújo viajou a Israel supostamente para conhecer um spray nasal, ainda em fases de testes, para o tratamento da Covid. Segundo o jornal Times of Israel, o produto atraiu a curiosidade até mesmo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O spray EXO-CD24 não é o mesmo que já recebeu autorização para venda em Israel, chamado Enovid.
Crusoé mostrou que, na carta de intenções assinada pelo Itamaraty e pela fabricante do EXO-CD24, consta que o spray apesentou “evidências preliminares de segurança e eficácia promissoras”.
Mas nota técnica do Ministério da Saúde produzida antes da viagem apontava que “as informações disponíveis não oferecem dados suficientes sobre os desfechos de segurança e eficácia obtidos e as características dos pacientes”.
Além disso, na carta ficou em branco o local onde deveria constar a assinatura do secretário de Ciência, Tecnologia e Inovações do Ministério da Saúde – o médico Hélio Angotti Neto.
Os senadores podem perguntar a Ernesto:
• Por que o senhor assinou uma carta de intenções dizendo o contrário do que constava em nota técnica do Ministério da Saúde?
• Por que o secretário Hélio Angotti Neto não assinou a carta?
2. A cota mínima no Covax
Em março deste ano, a Época publicou que Araújo não queria que o Brasil integrasse o Covax Facility, consórcio global de vacinas conduzido pela OMS. Segundo a revista, o então chanceler só foi convencido por insistência da embaixadora Maria Nazareth Azevêdo.
Os países pagantes sócios do Covax podem escolher o tamanho da cota, optando por vacinar de 10% a 50% de sua população. Em setembro de 2020, o Brasil se juntou ao Covax, mas optando pela cobertura mínima, de 10%. Como pagante, poderia escolher a de até 50%.
Os senadores podem perguntar a Ernesto:
• Por que o Brasil aderiu ao Covax com a cota mínima, em vez da cota máxima de 50%?
• É verdade que o senhor não queria que o Brasil aderisse ao Covax?
3. A cloroquina indiana
Telegramas do Itamaraty revelados pela Folha neste mês mostram que o ministério trabalhou pelo menos até junho de 2020 para garantir o fornececimento de hidroxicloroquina pela Índia.
Em meados de junho, a OMS já havia retirado a cloroquina do ensaio clínico ‘Solidariedade’, conduzido no mundo inteiro, que testou quatro tratamentos diferentes contra a Covid. Em 5 de junho, os líderes do ensaio ‘Recovery’, da Universidade de Oxford, já haviam anunciado não haver benefício clínico na hidroxicloroquina nos pacientes hospitalizados.
Os senadores podem perguntar a Ernesto:
• Por que o senhor insistiu em mobilizar nossos diplomatas em Nova Delhi para obter cloroquina mesmo após sua retirada de ensaios clínicos importantes – um deles, o ‘Solidariedade’, conduzido também no Brasil?
• Por que o senhor não mostrou a mesma dedicação em liderar o ministério para obter vacinas e seus insumos?
4. A carta da Pfizer
Como mostramos aqui, a Embaixada do Brasil em Washington mandou telegrama ao Itamaraty em setembro de 2020, confirmando ter recebido cópia da carta da Pfizer com oferta de vacinas, então em desenvolvimento.
O diplomata Bernardo Paranhos Velloso não comunicou só o próprio ministério – informou ainda que a embaixada “antecipou cópia da carta também à assessoria internacional do ministério da Saúde”.
Os senadores podem perguntar a Ernesto:
• A partir de setembro de 2020, o que o senhor fez a respeito das ofertas da Pfizer?
Bônus: a questão da China
A China é fornecedora de 100% dos insumos das vacinas envasadas no Brasil pelo Butantan e pela Fiocruz. Só não vieram da China os imunizantes importados prontos: os da Pfizer e as doses de Covishield.
Araújo pode esclarecer quais instruções forneceu à embaixada em Pequim sobre vacinas e o que fez para mitigar os impactos das declarações de Eduardo Bolsonaro e Abraham Weintraub sobre a China.
E ao final de toda a avaliação, os senadores ainda podem perguntar:
• Por que o Senado deveria aprovar sua indicação para qualquer embaixada no futuro?
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