Promotor aponta ligação do PCC com policiais para executar desafetos
Lincoln Gakiya, que acumula duas décadas de enfrentamento ao PCC, diz que morte de faccionado no Aeroporto Internacional de Guarulhos é recado a outros possíveis delatores
O promotor Lincoln Gakiya, conhecido por mais de duas décadas de enfrentamento ao Primeiro Comando da Capital (PCC) no Ministério Público de São Paulo, interpreta o assassinato de Vinícius Gritzbach no Aeroporto Internacional de Guarulhos como um ato calculado para enviar uma mensagem clara dentro da estrutura da facção. Liderando o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) em Presidente Prudente, Gakiya avalia que a principal suspeita recai sobre o próprio PCC, embora outras possibilidades ainda estejam sob análise.
“Esse tipo de execução foi um recado. Ele poderia ter sido morto em outro lugar, mas escolheram o maior aeroporto do Brasil, lotado de gente, para reforçar a mensagem”, afirmou Gakiya.
O informante
Vinícius, que colaborou com a Polícia em investigações sobre o PCC, era visto como um “arquivo vivo” da organização, com informações detalhadas sobre lavagem de dinheiro, tráfico internacional e conexões entre a facção, agentes públicos e empresas privadas. Sua morte pode ter servido tanto para eliminá-lo quanto para desencorajar outros possíveis delatores.
Corrupção na polícia
Em entrevista ao jornal O Globo, o promotor Lincoln Gakiya apontou o PCC como o principal suspeito do assassinato de Vinícius Gritzbach, mas não descartou a possibilidade de envolvimento de policiais no crime. Segundo ele, “o PCC já usou, no passado, policiais corruptos ou ex-policiais para execução de seus desafetos”.
Gakiya detalhou o modus operandi da facção, que mantém uma “rede de agentes públicos” sob sua influência. No entanto, ele fez questão de esclarecer que não se pode generalizar. “A polícia, na verdade, é mais citada porque é a instituição que está na linha de frente, que recebe primeiro a proposta de corrupção”, destacou o promotor.
A relação de Vinícius com o PCC começou há quase dez anos, quando ele passou a ser uma figura central na lavagem de dinheiro para os líderes da facção. Em depoimentos ao Ministério Público, ele detalhou os métodos empregados para movimentar recursos ilícitos, tanto dentro do Brasil quanto no exterior.
Lavagem de dinheiro
Um dos alvos dessa operação era a empresa UPBus, cujos responsáveis, segundo ele, foram recrutados pela facção para esconder o dinheiro proveniente do tráfico e outras atividades ilegais. “Ele nos trouxe provas, gravações e documentos. Mas era manipulador e omitia informações para proteger aliados”, contou Gakiya.
Apesar da execução seguir o padrão característico de crimes ordenados pelo PCC, o promotor mantém outras linhas de investigação abertas, incluindo o possível envolvimento de ex-policiais corruptos e até disputas financeiras internas. Gakiya também ressaltou que a facção só consegue operar em larga escala graças ao aliciamento de agentes públicos em diversas áreas, incluindo o Judiciário, ampliando seu alcance e poder.
Jurado de morte
Mesmo dentro do sistema prisional, Vinícius era alvo de uma sentença de morte imposta pelo PCC, que o culpava pelo assassinato de integrantes da facção. Segundo Gakiya, “para o PCC, não importa o resultado da Justiça. Ele seria morto de qualquer forma”.
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