Pescadores de Pelotas, no RS, temem por crise após chuvas
Quando a pesca for retomada em outubro, após período de proibição, a lagoa ainda estará se recuperando dos danos causados pelas enchentes
As famílias que dependem da pesca artesanal na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, estão passando por dificuldades após as recentes enchentes que atingiram a região. A Colônia Z3, uma comunidade de pescadores localizada às margens da lagoa, no município de Pelotas, foi duramente afetada, com cerca de 4 mil pessoas sofrendo os impactos das inundações.
As casas e peixarias foram cobertas pela água, e os equipamentos de pesca, como redes e refrigeradores, foram destruídos. Metade da população local precisou deixar suas casas e se abrigar em locais públicos ou privados na cidade. Enquanto isso, outros moradores permanecem nas áreas mais altas da vila ou dormindo em suas embarcações.
Nilmar Conceição, presidente do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z3, explica que nos próximos meses a pesca não poderá ser realizada devido ao período de defeso, quando é proibida a atividade na Lagoa dos Patos para garantir a reprodução das espécies. Durante esse período, que vai de junho a setembro, os pescadores artesanais têm direito ao seguro-defeso, um salário mínimo mensal pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para auxiliar no sustento das famílias. No entanto, mesmo quando a pesca for retomada em outubro, a lagoa ainda estará se recuperando dos danos causados pelas enchentes.
Recuperação da lagoa
Conceição ressalta que a recuperação da lagoa será um processo demorado. Será necessário aguardar a normalização do nível da água, a chegada de larvas de camarão e a reprodução dos peixes. No entanto, há incertezas em relação a esse processo, devido à possível contaminação da água proveniente de Porto Alegre e às fortes correntezas.
O pescador afirma que será necessário algum tipo de auxílio emergencial para os meses de novembro e dezembro, talvez uma extensão do seguro-defeso.
Outra preocupação dos cientistas é a suspensão de sedimentos sobre a lagoa. Imagens recentes de satélite mostram uma grande mancha de sedimentos tomando conta da Lagoa dos Patos e desaguando no oceano. Esses sedimentos são carregados pelos rios que desembocam diretamente na lagoa ou pelo Lago Guaíba, que recebe água de várias bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul.
A professora Diuliana Leandro, do Laboratório de Geoprocessamento aplicado a Estudos Ambientais (LGEA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explica que, embora a Lagoa dos Patos sempre tenha algumas manchas de sedimento, dessa vez a quantidade é incomum. Além disso, os sedimentos trazidos pelas enchentes têm coloração diferente dos naturais da lagoa.
Pescadores afetados em outras regiões
O canal São Gonçalo também preocupa os moradores da região. Esse canal natural de 76 quilômetros liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim, passando pela área urbana de Pelotas. Para proteger os bairros próximos, que abrigam mais de 40 mil pessoas, foi construído um dique de 3 metros de altura. Porém, devido ao aumento da vazão do canal, o dique precisou ser reforçado para suportar até 3,5 metros.
A prefeitura de Pelotas informa que há 665 pessoas em abrigos municipais e um total de 5 mil pessoas afetadas pelas enchentes. Aqueles que precisarem de abrigo devem entrar em contato com a Defesa Civil do município pelo telefone 153. Além disso, está disponível um cadastro online para o Auxílio Reconstrução do governo federal, que oferece um auxílio no valor de R$ 5,1 mil por família beneficiada.
Com informações da Agência Brasil
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