PEC da Vingança: as respostas de deputados da ‘lista de Lira’
Como noticiamos mais cedo, chegou às mãos de Arthur Lira (foto) uma lista de deputados a partir da qual o presidente da Câmara poderá tentar identificar possíveis “traidores” -- no entender dele, claro -- na votação da PEC da Vingança, derrotada na noite de ontem em plenário. A lista que foi entregue a Lira tem 82 nomes e é formada por...
Como noticiamos mais cedo, chegou às mãos de Arthur Lira (foto) uma lista de deputados a partir da qual o presidente da Câmara poderá tentar identificar possíveis “traidores” — no entender dele, claro — na votação da PEC da Vingança, derrotada na noite de ontem em plenário.
A lista que foi entregue a Lira tem 82 nomes e é formada por 1) deputados que não votaram ontem, independentemente do motivo (há casos de deputados em licença médica e em viagens oficiais); 2) deputados que se abstiveram na hora da votação da PEC; 3) e deputados que votaram para derrubar um ou os dois requerimentos que, na sessão de ontem, tentaram adiar a votação, mas também votaram contra a PEC.
Na lista, há parlamentares que sabidamente votariam contra a proposta e com os quais o presidente da Câmara não contava. De toda forma, de acordo com fontes próximas do deputado alagoano, é a partir desses nomes que poderão ser identificadas as possíveis “traições”. Lira nega que tenha a intenção de retaliar os pares.
O Antagonista ouviu vários desses deputados que aparecem na lista. Todos rejeitam a pecha de “traidores” e afirmam que seus posicionamentos eram conhecidos.
Samuel Moreira, do PSDB de São Paulo, diz ter recebido com surpresa a informação de que estava na lista. “Primeiro, porque eu nunca me comprometi com ninguém em votar à favor desta matéria. Segundo, porque eu já votei contra a PEC na CCJ, da qual sou membro titular e por onde a proposta tramitou antes de ir à plenário –fui inclusive um dos 13 que votaram contra, dos 66 membros. Além do mais, voltei a me posicionar contrário à PEC na reunião de bancada, realizada ontem, antes da votação. Por todas essas evidências, não vejo motivos para alguém achar que eu votaria a favor dessa proposta”, disse ele.
A deputada Shéridan, do PSDB de Roraima, também entrou em contato com este site e informou que já havia dito que votaria contra a PEC nessa mesma reunião da bancada citada por Samuel Moreira.
O tucano Ruy Carneiro, da Paraíba, disse que jamais tratou da PEC da Vingança com Arthur Lira e acrescentou que ter votado contra requerimentos de adiamento da votação da proposta não era uma “antecipação de decisão política” sobre o mérito. “Era um tema já amadurecido e, ao longo de toda a minha vida, votei na linha contrária à PEC em questão”, afirmou.
Como mostramos mais cedo, as votações de requerimentos do chamado “kit obstrução” costumam servir de termômetro. Ontem, as duas tentativas de adiar a votação foram derrubadas com mais de 308 votos, o mínimo necessário para aprovar uma PEC (leia aqui e aqui): um requerimento caiu com 316 votos contrários e o outro caiu com 344 votos contrários. Lira achou, então, que a vitória estava garantida e avançou com a votação. A PEC, no entanto, acabou recebendo 297 votos favoráveis — 11 a menos que o necessário — e não passou. Durante o dia, Lira fez chegar a líderes sua estimativa de que teria garantidos em torno de 320 votos.
Eduardo Cury, do PSDB de São Paulo, outro que aparece na “lista de Lira”, disse “não ter relação” com o presidente da Câmara e que “todo mundo sabia” que ele votaria contra a PEC da Vingança. “No PSDB, todo mundo sabia como cada um votaria. Nada ali foi surpresa para ninguém”, afirmou.
Lincoln Portela, do PL de Minas Gerais, disse a O Antagonista que está em viagem e Lira foi avisado disso. “Nunca disse que votaria. Mas Lira está, republicanamente e democraticamente, no direito de expressar a sua opinião sobre a votação de ontem. Eu o considero um excelente presidente e continuo acreditando na sua gestão. Ele é o meu presidente, quem respeito e admiro”, afirmou.
Enrico Misasi, líder do PV, informou que não votou ontem à noite por motivos de questões de saúde na família e que Lira estava ciente.
Luiz P. O. Bragança, do PSL de São Paulo, disse que está em viagem internacional.
A deputada Perpétua Almeida, do PCdoB do Acre, votou contra os requerimentos que pediam novo adiamento da votação e se absteve quanto ao mérito da PEC. Ela reagiu da seguinte forma ao saber que estava na “lista do Lira”: “Penso que há algum engano em me colocarem nesse tipo de lista, porque minhas posições políticas eu discuto na minha bancada, a bancada do PCdoB, e não na bancada do PP, partido do presidente da Câmara”.
Paulo Pimenta, do PT do Rio Grande do Sul, não participou da votação. Ele afirmou a este site, sem dar detalhes, que está de licença nesta semana.
Evair de Melo, do PP do Espírito Santo, é mais um caso de quem votou contra o adiamento da votação, mas também contra o mérito da PEC. Ele escreveu no Twitter: “Arthur sempre teve meu respeito e assim continuará. Divergimos pontualmente no mérito. Nossa amizade e nosso compromisso com tantas outras reformas não será abalada em função de posicionamento divergente nessa matéria”, acrescentou.
Charlles Evangelista, do PSL de Minas Gerais, afirmou não acreditar na lista publicada por este site. “Lira é muito maior que isso e sabe que sou firme e de palavra. Traidor é quando alguém dá a palavra de alguma coisa e faz ao contrário. Não dei a palavra, mesmo porque ele não me ligou pedindo voto. Não fui nem sequer procurado”, disse.
A presidente do Podemos, deputada Renata Abreu, também disse não acreditar na lista e acrescentou que tem “absoluta liberdade de voto” e que considera Arthur Lira um “democrata, que sempre trata os colegas parlamentares com total respeito”.
Um outro deputado, pedindo para não ser identificado, disse assim: “Essa raiva do Lira vai passar, tem prazo de validade. Amanhã tem outra votação. Depois de amanhã, outra votação. E, assim, a vida segue”.
Outros dois parlamentares também citados na “lista de Lira” preferiram não comentar.
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