Paulo Roberto na Crusoé: Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido?
Paulo Roberto de Almeida traz em sua coluna para Crusoé desta semana, a parte 2 da reflexão “Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido?”. Para ele, ideias erradas e não ausência de capital, explicam o atraso do Brasil na atualidade. Raymundo Faoro, em sua tese de 1958 sobre os Donos do Poder,...
Paulo Roberto de Almeida traz em sua coluna para Crusoé desta semana, a parte 2 da reflexão “Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido?”. Para ele, ideias erradas e não ausência de capital, explicam o atraso do Brasil na atualidade.
Raymundo Faoro, em sua tese de 1958 sobre os Donos do Poder, analisou o lento desenvolvimento do patrimonialismo ibérico até as formas modernas de corporativismo dos “estamentos burocráticos” que dominam o Estado e as relações contratuais nesses países europeus. O patrimonialismo veio sendo transformado ao longo das novas formas de organização política nos países latino-americanos, sem jamais ter sido extirpado ou reduzido nas modernas repúblicas formalmente democráticas.
Acresce a essas características do centralismo ibérico o fato histórico relevante da contrarreforma, um movimento regressista, obscurantista, obstrutor do progresso científico, ou seja, reacionário no plano da liberdade de ideias e no de sua transmissão. A ausência completa de uma revolução científica e, mais importante ainda, a completa omissão dessas sociedades na questão da alfabetização de massa impactou profundamente sua trajetória posterior, comparativamente às nações da tradição protestante, nas quais a leitura individual da Bíblia e a escolarização generalizada conduziram a patamares mais elevados de educação formal, que é a base da produtividade do capital humano, o grande diferencial das sociedades modernas.
Em 1900, no momento em que o Brasil consolidava seu regime republicano, a taxa de matrículas na escola primária era de apenas 258 estudantes para cada 10 mil habitantes, vis-à-vis as taxas de 1.969 estudantes para os Estados Unidos e de 1.576 para a Alemanha. Para ser mais preciso, o Brasil não conseguiu alcançar um nível de cobertura quantitativa em matéria de ensino primário comparável ao dos Estados Unidos no começo do século 19 antes dos anos 1970, ou seja, cerca de 150 anos depois. Essa realidade revela o tamanho da distância, puramente quantitativa, que separa o Brasil das nações educacionalmente mais avançadas. No plano qualitativo, os resultados deploráveis obtidos por estudantes brasileiros no âmbito de exames internacionais quanto a desempenho no ensino médio – por exemplo, o PISA da OCDE – confirmam as enormes carências relativas à formação de capital humano no Brasil. Trata-se de uma insuficiência estrutural construída em séculos de descaso e desprezo com a educação.
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