Paisagista propõe sistema para resgatar florestas nativas nas cidades
A forma como a arborização é tratada atualmente é um “descalabro”, de acordo com o paisagista Ricardo Cardim
O caos urbano no Brasil não se manifesta apenas no trânsito ou na segurança, mas também, e de forma dramática, na vegetação das cidades. Para Ricardo Cardim, paisagista renomado e referência nacional no uso de espécies nativas, a forma como a arborização urbana é tratada atualmente é um “descalabro”.
Ele argumenta que a falta de diretrizes nacionais e a delegação dessa responsabilidade a gestões municipais heterogêneas – que muitas vezes repassam a tarefa a concessionárias – resultam em uma situação perversa: árvores malcuidadas caem, gerando tragédias e fazendo com que a população veja a vegetação como inimiga, e não como essencial para a vida urbana e para a resiliência climática.
Fundador do Cardim Arquitetura Paisagística, com mais de 400 obras usando exclusivamente plantas dos biomas brasileiros, Cardim defende uma mudança radical. Sua proposta é a criação de um Sistema Único de Arborização em nível federal.
Esse órgão teria a missão de normatizar, fiscalizar e planejar a vegetação urbana em todo o país, similar ao que o Sistema Único de Saúde (SUS) faz pela saúde. O objetivo é garantir qualidade técnica e preparar as cidades para os desafios das mudanças climáticas que já se fazem presentes. A medida tiraria a responsabilidade das mãos dos prefeitos, que, segundo Cardim, muitas vezes a tratam com falta de investimento e interesse político.
O domínio estrangeiro e a defesa da vegetação nativa
Um dos pontos centrais levantados por Ricardo Cardim é o predomínio esmagador de espécies estrangeiras no paisagismo brasileiro, estimado por ele em 90%.
Essa prática, com raízes históricas na imitação de modelos europeus trazidos por imigrantes, persiste mesmo após o Modernismo, que adotou plantas tropicais – mas, ainda assim, muitas vezes exóticas. Cardim é uma voz praticamente solitária na defesa do uso exclusivo de espécies nativas, um imperativo ético e ecológico para o país de maior biodiversidade do planeta.
Ele rebate argumentos comuns do setor, como a suposta falta de fornecimento de plantas nativas, que considera uma falácia facilmente desmentida pela existência de viveiros especializados e por seu próprio histórico profissional. Igualmente, refuta a ideia de que espécies “adaptadas” estrangeiras sejam inofensivas, explicando que o termo vem de realidades climáticas diferentes (como os EUA) e que muitas dessas plantas podem se tornar invasoras, um dos maiores problemas ecológicos do Brasil.
Segundo Ricardo Cardim, ao usar plantas estrangeiras, o paisagismo brasileiro se limita a uma função decorativa, perdendo o potencial multifuncional das espécies nativas, que atuam no reequilíbrio ecológico, na redução de temperatura, na absorção de poluição, no abrigo à fauna e até na prevenção de enchentes.
A valorização das plantas nativas nas cidades é vista como fundamental para a preservação dos biomas para além delas: “As pessoas começam a ver as árvores como inimigas, não como fundamentais para nossa sobrevivência no ambiente urbano, para a nossa saúde física e psicológica nas cidades. Como se não fossem elas que regulassem o clima, que gerassem resiliência contra as mudanças climáticas…”, conclui.
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Comentários (1)
Rosa
12.06.2025 11:53Levemente exagerado mas gosto dele.... está certo.