Os papagaios do Planalto: Girão, Marcos Rogério e Heinze
Nas sessões da CPI da Covid, transmitidas diariamente na televisão, os senadores governistas Marcos Rogério, Luis Carlos Heinze e Eduardo Girão, além de Ciro Nogueira, protagonizaram um espetáculo grotesco, ao tentar defender Jair Bolsonaro das acusações de crimes cometidos durante a pandemia. Logo nas primeiras sessões, ficou claro que o time de Jair Bolsonaro não daria conta do recado e que protagonizaria um vexame...
Nas sessões da CPI da Covid, transmitidas diariamente na televisão, os senadores governistas Marcos Rogério, Luis Carlos Heinze e Eduardo Girão, além de Ciro Nogueira, protagonizaram um espetáculo grotesco, ao tentar defender Jair Bolsonaro das acusações de crimes cometidos durante a pandemia.
Logo nas primeiras sessões, ficou claro que o time de Jair Bolsonaro não daria conta do recado e que protagonizaria um vexame.
A estratégia inicial era tentar desviar o foco das investigações para estados e municípios, apontando para suspeitas de corrupção envolvendo governadores. No entanto, a cúpula da CPI, conhecida como “G7”, não teve dificuldade para ditar o ritmo dos trabalhos, pautando os depoimentos com foco no governo federal.
No primeiro deles, o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ficou claro como a tropa de choque iria atuar. Enquanto Ciro Nogueira, o “capitão” do grupo, lia uma pergunta, Mandetta o interrompeu para dizer que havia recebido o mesmo texto de Fábio Faria no dia anterior.
O ministro das Comunicações enviara, por engano a Mandetta, a mensagem endereçada à tropa de choque, responsável apenas por repetir as mentiras ditadas pelo Palácio do Planalto.
Nas sessões que se seguiram, a estratégia se manteve. Para cada depoente, existia uma narrativa previamente alinhada. Os bolsonaristas insistiam sempre nas mentiras de que o presidente foi impedido de agir pelo STF, de que não houve atraso na compra de vacinas e que a culpa pelo desastre sanitário era dos governadores, que receberam recursos federais.
Como Ciro Nogueira decepcionou, Marcos Rogério, o Rolando Lero da CPI, ganhou destaque. Com experiência como radialista, o senador mostrou-se capaz de ecoar as mentiras de Bolsonaro e de encontrar caminhos impensáveis para tentar sustentar o negacionismo do presidente.
Na realidade paralela do senador, por exemplo, não houve atraso na compra das vacinas da Pfizer, apesar de o governo ter ignorado uma série de ofertas.
Marcos Rogério também demonstrou ser bastante hábil em tumultuar as sessões, envolvendo-se em discussões com depoentes e colegas.
O suposto independente Eduardo Girão não ficou para trás. O senador se especializou na defesa aloprada do presidente por meio de argumentos pseudocientíficos.
Em um episódio constrangedor, Girão tentou “ensinar” a infectologista Luana Araújo sobre evidências científicas. Para isso, exibiu um gráfico que imprimiu em uma folha de papel.
“Esse gráfico é um gráfico errado“, rebateu a cientista. “As pessoas confundem meta-análise com revisão sistemática. Meta-análise não é um tipo de estudo, é uma ferramenta estatística.”
O senador ficou sem o que dizer.
Sem sombra de dúvida, porém, o campeão das fake news e do besteirol foi Luis Carlos Heinze. Não importava qual era o depoente, o senador repetia sempre o mesmo discurso que envolvia a cidade de Rancho Queimado, Big Pharma e uma atriz pornô.
Para defender o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid, Heinze citou frequentemente um estudo publicado na revista Lancet, que contraindicava o uso da substância nos pacientes acometidos pelo vírus. A pesquisa foi realizada a partir da base de dados de uma empresa chamada Surgisphere Corporation.
Em uma tentativa de descredibilizar a empresa, o senador disse que uma de suas funcionárias era atriz pornô.
O episódio virou piada nas redes sociais. As falas de Heinze foram comparadas a correntes de fake news no WhatsApp que usavam a foto da ex-atriz pornô Mia Khalifa, para falar de supostas conquistas científicas de uma estudante brasileira.
Ironicamente, o senador se disse vítima de fake news, afirmando que nunca falara em Mia Khalifa.
À medida que vinham à tona os escândalos de corrupção ou simples patetice envolvendo a compra de vacinas, a tropa de choque passou a insistir que o governo não tinha efetuado o pagamento pelos imunizantes superfaturados, ainda que o contrato entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde para a compra da Covaxin tivesse sido assinado.
Os bolsonaristas ignoraram a acusação de Luis Miranda de que o presidente havia sido informado sobre as irregularidades em março. Quando o deputado foi à CPI depor, eles causaram uma série de tumultos durante a sessão, assim como no caso do depoimento do líder do governo, Ricardo Barros.
Com o avanço das investigações, as suspeitas corrupção foram ficando cada vez mais concretas, envolvendo uma série de intermediários, um banco que não era banco, laranjas que não sabiam que eram sócios de empresas milionárias e até um motoboy que fazia pagamentos de R$ 400 mil em dinheiro vivo.
Marcos Rogério teve de aceitar que esses casos eram “indefensáveis”. Assim, a tropa de choque viu-se obrigada a alegar que diversos picaretas tentaram corromper o governo, mas não obtiveram sucesso.
Diante das divergências com Renan Calheiros e demais integrantes da cúpula da CPI, os defensores de Bolsonaro decidiram apresentar relatórios alternativos.
O parecer final foi apresentado no fim de outubro, imputando nove crimes ao presidente e pedindo 80 indiciamentos. Marcos Rogério, Eduardo Girão e Luis Carlos Heinze leram seus relatórios durante a sessão, nos quais os papagaios do Planalto repetiam as mesmas lorotas que os fizeram tristemente famosos.
Enquanto Heinze fazia a defesa de seu texto e reiterava suas mentiras, Alessandro Vieira sugeriu que ele fosse incluído no relatório de Renan. “Pela maneira como, apesar das advertências, o senador Heinze reincidiu aqui todos os dias, apresentando estudos falsos”, justificou. A sugestão foi acatada.
Pouco depois, o nome do senador foi retirado do relatório final da CPI.
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