Os 5 anos da Reforma Trabalhista Os 5 anos da Reforma Trabalhista
O Antagonista

Os 5 anos da Reforma Trabalhista

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 11.11.2022 19:21 comentários
Brasil

Os 5 anos da Reforma Trabalhista

Temas trabalhistas costumam afligir os brasileiros. As normas são detalhadas e intromissivas. A jurisprudência é muitas vezes dúbia ou inusitada em relação ao texto da lei. Há muito descumprimento legal e pouco estímulo à formalidade. Não raro, falta aos empregadores e trabalhadores a confiança mútua que deveria sustentar qualquer contrato. Tudo isso ergueu por aqui um cenário de insegurança jurídica crônica, no qual acostumou-se a lidar com o imprevisível e o imponderável...

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 11.11.2022 19:21 comentários 0
Os 5 anos da Reforma Trabalhista
Divulgação

Temas trabalhistas costumam afligir os brasileiros. As normas são detalhadas e intromissivas. A jurisprudência é muitas vezes dúbia ou inusitada em relação ao texto da lei. Há muito descumprimento legal e pouco estímulo à formalidade. Não raro, falta aos empregadores e trabalhadores a confiança mútua que deveria sustentar qualquer contrato. Tudo isso ergueu por aqui um cenário de insegurança jurídica crônica, no qual acostumou-se a lidar com o imprevisível e o imponderável.

Quando se abriu, portanto, a janela histórica de 2017 pela qual se viu uma chance de realizar uma grande alteração legal em matéria de trabalho, a impressão que se tem é de que a sociedade agarrou a oportunidade com ferocidade. Tanto é que a minirreforma trabalhista apresentada pelo então governo Temer, cujo objetivo era alterar cerca de cinco pontos na CLT, transformou-se em uma maxi reforma – a maior desde 1943, quando nasceu, pelas mãos da ditadura varguista, a Consolidação. Mais de cem dispositivos legais acabaram modificados.

No país em que a proteção ao trabalhador é confundida com o excesso de lei, qualquer desregulamentação é acusada de retrocesso. Pois a reforma de 2017 foi ré confessa desde o início: declaradamente formulou normas simples e flexibilizantes e teve por pilares a segurança jurídica e a liberdade individual. Com base neles, buscou aprimorar o ambiente de negócios, atacar a alta judicialização e permitir que os particulares pudessem, por meio de negociação, customizar seus contratos de trabalho sem muita intromissão estatal.

De fato, a nova lei estabeleceu a prevalência e a segurança jurídica do negociado coletivamente e regras menos rígidas quanto ao cotidiano das relações de trabalho: negociação de jornada, intervalos, alteração de remuneração e parcelamento de férias, para ficar só nos exemplos mais lembrados.

Mas não só.  A reforma ainda: 1) extinguiu o imposto sindical, que viciava e politizava a nossa representação sindical – até 2016, cerca de 17 mil sindicatos arrecadavam, sem esforço, 3,9 bilhões de reais todos os anos (dinheiro saído do bolso do trabalhador); 2) regulamentou as novas formas de contratação, mais flexíveis, como o novo trabalho a tempo parcial, o trabalho intermitente e o teletrabalho – os quais aliás, se mostraram essenciais para o enfrentamento da pandemia que se seguiria; e 3) criou o sistema de sucumbência na Justiça do Trabalho, que trouxe maior responsabilidade na litigância e reduziu cerca de 30% do número de ações trabalhistas no Brasil.

Tudo isso constituiu um promissor panorama legal para o aumento de ocupação e renda que, como se sabe, é indissociável de um ambiente seguro para se empreender.  

Obviamente já era aguardada uma certa turbulência, natural diante de qualquer grande alteração legal e diante das peculiaridades da magistratura do trabalho, tão ciosa da interpretação principiológica. Até que a nova lei fosse interpretada e a jurisprudência pacificada, era mesmo esperado um tempo de maturação.

Contudo, o que a Reforma enfrentou foi uma verdadeira orquestração de uma resistência, assim autodenominada por alguns setores, inclusive da magistratura trabalhista. Tal resistência, muitas vezes com contornos políticos ou ideológicos, foi o motor de parte das exageradas alegações de inconstitucionalidade. Exageradas segundo o próprio STF, diga-se, pois chegamos ao ponto de termos um Ministro do STF, em um dos seus votos sobre a reforma, a exortar para que os juízes do trabalho cumprissem a nova lei (ver voto do Ministro Fux na ADI 5.794).

De fato, embora alguns pontos tenham sido declarados inconstitucionais pelo Supremo, como o trabalho insalubre da gestante e uma parte do sistema de sucumbência, o STF vem chancelando majoritariamente a Reforma. Foram julgados constitucionais: a prevalência do negociado sobre o legislado, a terceirização de serviços e até de um dos trechos mais políticos, a extinção do imposto sindical.

Paralelamente, estudos acadêmicos demonstraram uma relação direta entre a nova legislação e a melhoria de ocupação. É o caso do agora já conhecido estudo da FEA/USP que identificou, nas regiões em que os tribunais aplicaram de forma mais enfática as novas regras de sucumbência, um impacto positivo nos níveis de emprego.

Ou seja, passada a estridência, o que temos é que a resistência à Reforma Trabalhista de 2017 tende a se arrefecer pela atuação do STF e pela imposição da própria realidade, se deixarmos que ela siga o seu curso natural de amadurecimento.

A criança completa hoje cinco anos. Que ela cresça e que, de preferência, não seja ameaçada de morte.

*Ana Fischer é juíza do Trabalho, coordenou o GAET (Ministério da Economia) e integrou a comissão de redação da Reforma Trabalhista e de outras normas.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PF prende Braga Netto em investigação sobre tentativa de golpe

Visualizar notícia
2

Pablo Marçal, Boninho e Jojo Todynho: o que acontece no SBT?

Visualizar notícia
3

“Atropelo das normas”, diz Mourão sobre prisão de Braga Netto

Visualizar notícia
4

Um “press release” do STF para a J&F

Visualizar notícia
5

Lula, empresários fraternos e bilhões sob conflito de interesses

Visualizar notícia
6

PF: Braga Netto usou sacola de vinho para repassar dinheiro a “kid preto”

Visualizar notícia
7

Moraes multa Marcos do Val por discurso repostado por terceiro

Visualizar notícia
8

AGU manda YouTube retirar conteúdos falsos sobre saúde de Lula

Visualizar notícia
9

Presidente da Coreia do Sul sofre impeachment após tentativa de lei marcial

Visualizar notícia
10

Assessor de Braga Netto também é alvo de operação da PF

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

O retorno de Dexter Morgan: Uma surpresa na nova série da Paramount

Visualizar notícia
2

Asilados em embaixada pedem ajuda de Lula para sair da Venezuela

Visualizar notícia
3

PSOL vai pedir extinção dos kids pretos

Visualizar notícia
4

Funcionário de embaixada sob custódia do Brasil é preso na Venezuela

Visualizar notícia
5

Defesa de Braga Netto nega obstrução à Justiça

Visualizar notícia
6

Dexter: Original Sin - Série terá segunda temporada

Visualizar notícia
7

Juiz auxiliar de Moraes mantém prisão de Braga Netto

Visualizar notícia
8

Jerônimo Teixeira na Crusoé: Sobre câmeras corporais e erros letais

Visualizar notícia
9

Moraes cita “extrema periculosidade” de Braga Netto

Visualizar notícia
10

Carla Zambelli reclama de “perseguição” em sexta-feira 13

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Ana Fischer Reforma Trabalhista
< Notícia Anterior

Freixo nega ida para PT de olho em ministério

11.11.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Governo de transição estuda tirar Bolsa Família do teto por 4 anos

11.11.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Saque de até R$ 2.900 do FGTS 15/12: Saiba como resgatar

Saque de até R$ 2.900 do FGTS 15/12: Saiba como resgatar

Visualizar notícia
Marinha alerta para possível ciclone no Brasil

Marinha alerta para possível ciclone no Brasil

Visualizar notícia
Asilados em embaixada pedem ajuda de Lula para sair da Venezuela

Asilados em embaixada pedem ajuda de Lula para sair da Venezuela

Visualizar notícia
PSOL vai pedir extinção dos kids pretos

PSOL vai pedir extinção dos kids pretos

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.