Orlando Tosetto Júnior na Crusoé: PM, ou a “Polícia do Meme”
Deve ser uma profissão e tanto a de criador de memes, capaz de matar de inveja a multidão de pessoas que os fazem de graça
Em sua coluna semanal para Crusoé, Orlando Tosetto Júnior traz nesta edição uma análise e explicação sobre meme. Desde a origem da palavra aos muitos que foram feitos sobre ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nas últimas semanas.
Para escrever a crônica desta semana, tive que ir saber o que quer dizer a palavra meme, e descobrir sua etimologia. Ajudado pela inefável internet, aprendi com os catedráticos de Oxford que meme é um portmanteau que mistura os termos gregos mimema, que quer dizer “aquilo que é imitado”, e gene, que significa “prole” ou “descendência” (pois é, gene queria dizer isso, lá na Grécia). Não é palavra órfã nem surgida dos contubérnios da fala do povão (no caso, o povão de língua inglesa). Ela tem pai: Richard Dawkins, o famoso biólogo e ateu inglês. Ele cunhou o termo em seu livro O Gene Egoísta, dando-lhe o seguinte sentido: “elemento cultural ou comportamental transmitido de um indivíduo para outro por imitação ou outro meio não genético”. A transformação desse sentido, aparentemente tão técnico, no de “zoeira que viraliza e todo o mundo começa a fazer e a compartilhar freneticamente” não é difícil de entender: participação é, de certo modo, imitação.
Essa introdução longa apresenta um assunto que não quer e não vai se esgotar tão cedo: os memes que andam gozando a cara do senhor Ministro da Economia (ou será da Fazenda? Os ministérios mudam de nome mais depressa do que eu consigo acompanhar) pela sua obediência à frenética ânsia arrecadatória do governo e, por conseguinte, magoando e entristecendo tanto o próprio governo quanto as pessoas que amam o governo e estão dispostas a acarinhá-lo, defendê-lo e protegê-lo sempre e em tudo. O amigo certamente já viu alguns na internet, no seu zap-zap. A grande maioria imita cartazes de filmes e faz trocadilhos com os títulos.
A mágoa, pelo que percebo, vem do fato de que o governo (e seus defensores) quer fazer parecer que cada ato seu – cada convescote, cada entrevista coletiva, cada discurso em inauguração de poço artesiano, cada tchauzinho no aeroporto, cada lei, cada medida e cada canetada – é, em essência, um ato feito do mais puro amor, da mais generosa bondade e da mais adamantina competência. Ora, talvez seja; eu, aqui do meu lado, não sei, mas também não entendo nada dessas coisas de amor, bondade e competência governamental: sou um mero brasileiro, não estou nada habituado a essas coisas. Amor, bondade e competência governamentais podem estar bem debaixo do meu nariz sem que eu as note. Se bem que, pensando bem, é melhor que nada que venha do governo passe debaixo do meu nariz.
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