Operação para remover gado ilegal no Pará foi cancelada “sem maiores explicações”
A operação para apreender mais de 1.000 cabeças de gado criadas ilegalmente em uma reserva biológica no Pará foi cancelada "sem maiores explicações" uma semana antes de Ricardo Salles transferir gabinetes do ministério ao estado...
A operação para apreender mais de 1.000 cabeças de gado criadas ilegalmente em uma reserva biológica no Pará foi cancelada “sem maiores explicações” uma semana antes de Ricardo Salles transferir gabinetes do ministério ao estado.
A informação consta de ofício de analistas do ICMBio assinado na quinta da semana passada (6) e obtido por O Antagonista.
“No dia 04/05/2021 o coordenador substituto [Adriano Souza] informou que, após uma reunião entre a CGPRO [Coordenação Geral de Proteção], a DIMAN [Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação], a UNA [Unidade Especial Avançada] de Itaituba e a Gerência Regional Norte – GR1, por ordem do diretor [Marcos Simanovic] o enfoque da operação iria mudar para verificação de alertas de desmatamentos, e que não mais haveria retirada de gado, sem maiores explicações e, segundo os participantes da reunião, sem sequer ouvir a área técnica. Mesmo após reiteradas solicitações de revisão desse posicionamento por parte da equipe, tendo em vista mais de um ano de planejamento e grande montante de recursos públicos envolvidos nessa e nas etapas preparatórias, a diretoria se mostrou intransigente emsua decisão”, diz o texto, assinado por 10 funcionários do ICMBio.
No texto, os nove analistas ambientais e um coordenador informam que não participariam da operação remodelada “para verificação de alertas de desmatamentos”, considerando que a decisão da diretoria alterou “o foco da atuação de forma a tornar a atividade menos efetiva do ponto de vista da proteção”.
O alvo da operação cancelada era uma fazenda no interior da reserva Nascentes da Serra do Cachimbo.
Segundo os analistas do ICMBio, essa fazenda soma 2.260 hectares de áreas embargadas, com mais de 1.000 cabeças de gado em seu interior e R$ 59 milhões em multas não corrigidas.
A fazenda “também conta com recomendação para desocupação imediata da área, conforme manifestações proferidas pela Coordenação de Matéria Fundiária da Procuradoria Federal Especializada junto ao ICMBio (PFE/COMAF), já que se trata de ocupação de gleba pública federal, sem qualquer documento autorizativo ou legitimador, associada à prática de ilícitos ambientais”.
A operação era planejada desde o ano passado, inclusive com apoio da Abin, da Força Nacional e de prefeituras locais.
“Ao longo de março e abril [de 2021] foram feitas tratativas com prefeituras para recebimento do gado em doação, com a ABIN para levantamento prévio no local, Campo de Provas Brigadeiro Velloso (Base Aérea do Cachimbo) para hospedagem de cerca de 40 pessoas envolvidas, Força Nacional para aumento do efetivo visando uma maior segurança na ação, além de destinação de suprimentos de fundo para compra de utensílios veterinários e de acampamento, contratação de capatazia para manejo do gado, localização de dois servidores veterinários para o suporte ao manejo, consulta formal ao setor jurídico sobre a legalidade da ação e contatos formais com a Agência de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Pará – ADEPARA para apoio nas questões sanitárias e de transporte do gado”, acrescenta o ofício.
O documento foi enviado à presidência do ICMBio, à Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação (DIMAN) e a outros órgãos da instituição.
Procurado desde terça (11) por O Antagonista, o Ministério do Meio Ambiente ainda não se manifestou sobre o assunto.
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