Operação contra organização criminosa de Rogério de Andrade e o jogo do bicho no Rio
A operação teve como alvo 18 policiais militares ativos, um reformado e um policial penal, suspeitos de ligação com o jogo no Rio de Janeiro
Na manhã de quarta-feira (20), o cenário carioca foi marcado por uma ação significativa do Ministério Público, com suporte das Corregedorias da Polícia Militar e da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), juntamente com a Polinter. A operação teve como alvo 18 policiais militares ativos, um reformado e um policial penal, suspeitos de ligação com a contravenção na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo era desarticular uma organização criminosa associada ao reconhecido contraventor Rogério de Andrade, embora este não tenha sido um dos alvos diretos da operação.
Essa iniciativa joga luz sobre a perpetuação do jogo do bicho na cidade, denotando um emaranhado de relações que se estende desde a herança deixada por Castor de Andrade, tio de Rogério, até as disputas contemporâneas pela exploração do jogo. Históricamente, a contravenção recebeu formas organizadas de operação, especialmente na zona oeste do Rio de Janeiro, manifestando-se através de cassinos, bingos e principalmente do jogo do bicho.
Herança de uma Tradição Contraventora
A sucessão de Rogério de Andrade no comando dos interesses familiares ocorreu de forma quase natural após o falecimento de seu tio, Castor de Andrade, em 1997. Ao dividir a herança com figuras como o filho de Castor e seu ex-cunhado, ambos vítimas de assassinatos em circunstâncias nebulosas, a trama do jogo do bicho revela-se não apenas rica em controvérsias, mas também marcada por violentas disputas internas e externas ao clã.
As novas gerações trouxeram consigo não só uma herança de poder, mas também de conflitos. As disputas por pontos de jogo intensificaram-se, resultando em episódios trágicos, como o atentado contra Rogério de Andrade em 2010, que custou a vida de seu filho. Tal episódio evidencia não apenas o perigo inerente à atividade contraventora, mas também as disputas sanguinárias pelo controle territorial e operacional do jogo.
O Vínculo Inquebrável com o Carnaval
Um dos aspectos mais emblemáticos da história do jogo do bicho é sua intrínseca relação com o Carnaval carioca. Castor de Andrade, por exemplo, não era apenas um nome respeitado no universo da contravenção, mas também um apaixonado pelo samba, especialmente pela Mocidade Independente de Padre Miguel. Rogério, seguindo os passos do tio, mantém até hoje essa ligação com o Carnaval, sendo patrono da mesma escola.
Apesar das restrições impostas pela justiça, que limitam a liberdade de Rogério de Andrade de participar ativamente das festividades, sua presença se faz sentir indiretamente através do suporte financeiro e do envolvimento familiar com a escola de samba. A conexão entre o jogo do bicho e o Carnaval é, portanto, um reflexo de como a contravenção se entrelaça com manifestações culturais e sociais profundas no Rio de Janeiro.
As consequências legais enfrentadas por Rogério, incluindo a prisão domiciliar e as investigações relacionadas a atividades criminosas e corrupção policial, desvelam um panorama complexo. Este último envolve desde relações conturbadas dentro do núcleo familiar até o impacto dessas atividades no tecido social e cultural do Rio.
Um Olhar para o Futuro da Contravenção
O futuro do jogo do bicho e das figuras emblemáticas à sua volta, como Rogério de Andrade, permanece incerto. As constantes operações policiais e os esforços para desmantelar organizações criminosas associadas a essa prática indicam uma luta contínua contra a contravenção. Contudo, a história ensina que essas atividades tendem a se adaptar e sobreviver, mesmo diante de adversidades legais e sociais. A relação simbiótica com aspectos culturais, como o Carnaval, oferece um exemplo de como algumas práticas ilegais conseguem se enraizar profundamente em certas tradições, desafiando os esforços para erradicá-las completamente.
Assim, a trajetória de Rogério de Andrade e a recente operação do Ministério Público lançam luz sobre uma tradição de contravenção que persiste no Rio de Janeiro, oscilando entre os limites da legalidade e da influência cultural profunda. Resta observar como futuras iniciativas legais e sociais irão moldar a luta contra o jogo do bicho e se novos capítulos dessa história serão marcados pela continuidade ou pela transformação.
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