O tuíte do general Villas Bôas foi mais constitucional do que certos votos no STF O tuíte do general Villas Bôas foi mais constitucional do que certos votos no STF
O Antagonista

O tuíte do general Villas Bôas foi mais constitucional do que certos votos no STF

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 16.02.2021 12:08 comentários
Brasil

O tuíte do general Villas Bôas foi mais constitucional do que certos votos no STF

No Brasil, há as vivandeiras que bolem com os granadeiros nos seus bivaques, para estimular golpes militares, e as vivandeiras encarregadas de vender caricaturas dos granadeiros à sociedade civil, como se eles estivessem preocupados em dar golpes. A esta altura do campeonato, os generais mantêm distância das primeiras, mas têm de lidar com as segundas,  atolados que estão no governo do capitão-presidente que pensavam poder tutelar em prol da democracia  e que lhes arrasta para o fundo do poço...  

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 16.02.2021 12:08 comentários 0
O tuíte do general Villas Bôas foi mais constitucional do que certos votos no STF
Foto: Isac Nóbrega/PR

No Brasil, há as vivandeiras que bolem com os granadeiros nos seus bivaques, para estimular golpes militares, e as vivandeiras encarregadas de vender caricaturas dos granadeiros à sociedade civil, como se eles estivessem preocupados em dar golpes. A esta altura do campeonato, os generais mantêm distância das primeiras, mas têm de lidar com as segundas,  atolados que estão no governo do capitão-presidente que pensavam poder tutelar em prol da democracia e que lhes arrasta para o fundo do poço.

As vivandeiras das caricaturas dos granadeiros tentam contrabandear o general Eduardo Villas Bôas como personagem caricatural. Tudo por causa de tuítes publicados por ele em abril de 2018, quando o STF julgava um habeas corpus para soltar Lula. A soltura poderia causar um enorme tumulto no país, visto que o PT politizara a prisão do corrupto e lavador de dinheiro, condenado em todas as instâncias da Justiça. No tuíte, Villas Bôas escreveu o seguinte:

“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”

E ainda houve outro:

“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.”

O tuíte foi visto pela esquerda como interferência indevida do general e pela maioria dos brasileiros que deles tiveram notícia como nota muito sensata. Afinal de contas, o PT e o seu poste colocaram irresponsavelmente Lula como perseguido político e viram na campanha presidencial a ser realizada em outubro daquele ano uma oportunidade para absolvê-lo politicamente, em total deturpação do processo eleitoral. No julgamento no STF, Celso de Mello, então decano da corte, mostrou indignação com a intromissão dos “pretorianos”, mas o plenário do tribunal decidiu acertadamente manter a prisão de Lula.

O tuíte do general Villas Bôas, a quem chamei de soldado da democracia na Crusoé, em 2019, (artigo aberto para não assinantes), voltou ao noticiário ontem, por causa do livro General Villas Bôas: Conversa com o Comandante, lançado pela Editora FGV. Traz uma entrevista que o general concedeu ao pesquisador Celso Castro. Villas Bôas conta na entrevista que o tuíte foi confeccionado juntamente com outros integrantes do Alto Comando do Exército. “Tratava-se de um alerta, muito antes que uma ameaça”, afirma o general.

Villas-Bôas repete o que já se sabia: ele e seus colegas de farda estavam preocupados com os desdobramentos da insatisfação popular com a eventual libertação do condenado e, ato contínuo, a reação dos granadeiros. O alerta, portanto, foi tanto para fora como para dentro das Forças Armadas. Villas Bôas afirma que não tinha a intenção de mudar votos dentro do STF, mas reconhece que era grande o risco de surgir um “sentimento generalizado de insatisfação” no Exército, se o STF decidisse soltar Lula.

O ministro do STF, Luiz Edson Fachin, encarregou-se de responder ao relatado no livro. Disse o ministro: “Anoto ser intolerável e inaceitável qualquer forma ou modo de pressão injurídica sobre o Poder Judiciário. A declaração de tal intuito, se confirmado, é gravíssima e atenta contra a ordem constitucional. E ao Supremo Tribunal Federal compete a guarda da Constituição.” E prosseguiu, lembrando o que está na Constituição: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” Por último, ele faz uma referência, a meu ver completamente despropositada, à postura impecável dos militares americanos quanto à baderna por Donald Trump e sua turba nos Estados Unidos.

Pode-se criticar Villas Bôas por defender o regime militar instaurado em 1964, da mesma forma que todos os generais, e por alinhar-se a personagens nefastos do atual governo, como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Mas pintá-lo como alguém que na hora da urgência fez a coisa errada é simplesmente injusto.  Aliás, foram duas as horas da urgência nas quais Villas Bôas foi decisivo. Como escrevi na Crusoé, “o primeiro foi em 2015, quando se recusou a reprimir as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff. Petistas sondaram os militares sobre a decretação do estado de defesa, outorgando a Dilma poderes especiais para suspender garantias individuais como se houvesse grave crise institucional. O general Villas Bôas deixou claro que não iria jogar o Exército contra o povo que se manifestava democraticamente nas ruas pela deposição de uma presidente que havia sido eleita com dinheiro de propina”.

Se o o tuíte do general foi lido como alerta no Supremo, em 2018, tanto melhor (certamente foi lido e funcionou como tal dentro nas Forças Armadas). Isso significa apenas que ele ajudou a preservar o tribunal e, por consequência, a democracia. Luiz Edson Fachin sabe que, hoje, o problema não está nos bivaques, mas na instituição a quem compete a guarda da Carta Magna. Ela abriga ministros que proferem absurdos lógicos em certos votos, como “o afastamento da letra da Constituição pode muito bem promover objetivos constitucionais de elevado peso normativo, e assim esteirar-se em princípios de centralidade inconteste para o ordenamento jurídico” — o que equivale a dizer que a Constituição pode ser contrariada para que seja mantida. Nenhuma vivandeira seria capaz de tamanha ousadia. O tuíte do general Villas Bôas foi muito mais constitucional do que isso.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Visualizar notícia
2

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
3

Jaguar se rende à cultura woke e é alvo de críticas

Visualizar notícia
4

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
5

Kassab projeta Tarcísio presidente até 2030

Visualizar notícia
6

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
7

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
8

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
9

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
10

Crusoé: Pablo Marçal governador de São Paulo?

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

campanha presidencial General Villas Bôas habeas corpus de Lula Luiz Edson Fachin STF tuíte
< Notícia Anterior

O último baile

16.02.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Ministério da Saúde determina intervalo de 14 dias entre vacinações contra gripe e Covid-19

16.02.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Alerta laranja do Inmet para risco de chuvas intensas. Veja as regiões

Alerta laranja do Inmet para risco de chuvas intensas. Veja as regiões

Visualizar notícia
Morre Iolanda Barbosa: Um olhar sobre o Alzheimer

Morre Iolanda Barbosa: Um olhar sobre o Alzheimer

Visualizar notícia
Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
Mega-sena acumula e prêmio do próximo sorteio chega a R$ 18 milhões

Mega-sena acumula e prêmio do próximo sorteio chega a R$ 18 milhões

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.