“O que o eleitor cobra é o pós-Bolsa Família”, diz Murilo Medeiros a Crusoé
Cientista político fez levantamento nas 17 cidades mais dependentes do programa social e onde o PT não emplacou nenhum prefeito
O cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), fez um levantamento entre as 17 cidades brasileiras em que mais 40% da população recebem o Bolsa Família. Nelas, o PT não elegeu nenhum prefeito e o PSB, também de esquerda, apenas um. Ele falou com Crusoé sobre a força eleitoral do programa assistencial.
Daqui a dois anos, os eleitores dessas 17 cidades votarão em um presidente que assegura a continuação ou aumento do Bolsa Família?
O Bolsa Família passou incólume por governos de diferentes matizes ideológicas. O temor de que o programa pudesse ser extinto ou descontinuado, discurso muito propagado em campanhas eleitorais, não prosperou. Pelo contrário, apesar de ter sido criado em 2003 pelo presidente Lula, inspirado no Bolsa Escola de Fernando Henrique Cardoso, o Bolsa Família foi ampliado na gestão Bolsonaro. O eleitor já percebeu que, independente de quem esteja no poder, o programa será mantido. É um benefício consolidado, de raízes liberais, visto como uma política de Estado. O que o eleitor cobra, neste momento, é o pós-Bolsa Família. Não só uma política de distribuição de renda, mas uma ferramenta capaz de promover educação, oportunidades e geração de emprego e renda. A falta de oportunidades tornou o trabalhador mais cético com relação a políticas assistencialistas. As relações de trabalho mudaram. O discurso sindicalista dos anos 80 que o PT professa, ancorado na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), ficou para trás. A população que recebe o benefício social quer ir além do mínimo, quer prosperar, quer crescer na vida. Não quer depender do Estado, de forma eterna, para sobreviver. Quer ter a chance de complementar sua renda.
O candidato presidencial preferido das pessoas que ganham o Bolsa Família é de esquerda ou de direita?
O brasileiro que recebe o Bolsa Família não quer saber se o candidato presidencial é de direita ou de esquerda. Ele quer um presidente da República que entregue resultados efetivos, que aponte caminhos para melhorar a sua vida. A mãe que recebe o Bolsa Família quer colocar seu filho na creche e ser bem atendida. Tanto faz se a creche é estatal ou administrada por uma parceria público-privada. O que importa é que a creche funcione. O candidato que souber dialogar melhor com essa faixa do eleitorado, em sintonia com temas do cotidiano, terá uma maior visibilidade.
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